Título: Com mais tecnologia, mais renda e educação
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Economia, p. B4

Além das 15 Aglomerações Espaciais Industriais, o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) identificou cidades isoladas que abrigam empresas consideradas de nível A, que inovam e diferenciam seus produtos. Somando as 254 cidades que compõem os núcleos, foram identificadas empresas de maior grau tecnológico em 465 localidades, de um total de 5.560 municípios. Nessas cidades, 13,7% dos moradores têm educação superior, 90,8% das casas têm rede de esgoto e a renda per capita (incluindo crianças e idosos) é de R$ 419,52. No lado oposto, nos 5.042 municípios que não atraíram nenhuma empresa virtuosa, 4,2% dos habitantes têm escolaridade superior, a rede de esgoto atende 63,3% dos lares e a renda per capita é de R$ 175,92 (leia quadro).

"Há uma via de mão dupla na situação social dessas cidades com a qualidade das empresas instaladas", diz João Alberto De Negri, da diretoria de estudos setoriais do Ipea. Os municípios com habitantes de melhor nível educacional, escolas, universidades técnicas e infra-estrutura atraem atividades de maior conteúdo tecnológico. Por outro lado, a presença dessas empresas faz com que as cidades se desenvolvam ainda mais para oferecer estruturas adequadas.

Empresas que não diferenciam produtos têm produtividade menor e atendem basicamente ao mercado local. Classificadas como categoria C, são em maior número - representam 77% das companhias brasileiras - e estão em 2,1 mil municípios. Nessas cidades, 10,9% das pessoas têm educação superior, 84,3% das casas têm rede de esgoto e a renda per capita é de R$ 347,73.

Mesmo entre as aglomerações espaciais há forte heterogeneidade, lembra o pesquisador da UFMG, Mauro Borges Lemos. São Paulo, por exemplo, é dominada por empresas de nível A, condição que se repete, ainda que em menor escala, em Curitiba (PR) e Joinville (SC).

"São necessárias ações para a promoção e integração produtiva das aglomerações menos desenvolvidas, por meio de uma política industrial complementar", afirma Lemos. Essas ações precisam estar em sintonia com a política nacional de desenvolvimento regional para que haja maior equilíbrio geográfico.

CATEGORIAS

O estudo que identifica onde estão as maiores concentrações industriais do País faz parte do projeto "Inovação, padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras", iniciado há um ano pelo Ipea em parceria com universidades do País. O trabalho terá 17 capítulos abordando também o perfil do comércio, salários, internacionalização, empresas nacionais e estrangeiras, entre outros.

Na primeira etapa, divulgada em dezembro, o Ipea classificou as empresas em três categorias: as que inovam e diferenciam produtos, investem em pesquisa e desenvolvimento e, com isso, conseguem resultados de competitividade, lucratividade e exportações acima das concorrentes. Estão nessa categoria, identificada como A, apenas 1,7% de um total de 72 mil indústrias do País, responsáveis por 90% do Produto Interno Bruto (PIB). A maior parte é dos setores de mecânica e química.

O segundo grupo (B) envolve 21% das empresas. Elas são consideradas produtivas, mas operam com menor conteúdo tecnológico e lucram menos, pois seus produtos são padronizados. O terceiro e maior grupo (C) não diferencia produtos, tem baixa produtividade e não investe em tecnologia.