Título: Brasil tem 15 pólos de inovação industrial
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Economia, p. B4

O País abriga 15 centros industriais dinâmicos, com empresas que inovam em produtos, têm tecnologia avançada e melhor retorno financeiro. Esses núcleos, formados por 254 municípios integrados em cada região, estabelecem relações produtivas entre si, beneficiando o entorno. São cinturões com dinamismo, capacidade de reprodução de conhecimento e onde foram identificadas as melhores práticas industriais, com impacto na condição social dos moradores. As aglomerações concentram 85% do valor da transformação industrial, mais de 90% das exportações brasileiras, além de 70% da renda e do pessoal ocupado no País. Elas servirão de espelho para o governo na adoção de uma política industrial complementar, que fortaleça e amplie esses núcleos para cidades e regiões vizinhas.

Ao mesmo tempo, impõem a necessidade de ações regionais na área de infra-estrutura em cidades que não conseguem atrair empresas de qualidade. Só assim será possível evitar concentração tecnológica e produtiva ainda maior. Os núcleos industriais mais avançados estão presentes em 4,5% de todos os municípios do País.

"A desigualdade no Brasil não é apenas social, é também tecnológica e produtiva", diz João Alberto De Negri, da diretoria de estudos setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), responsável pela pesquisa denominada "Espaços preferenciais e aglomerações industriais".

A concentração sempre existiu, mas pela primeira vez foi amplamente mapeada pelo Ipea, que em maio apresentará em audiência pública no Senado o resultado do mais amplo censo sobre competitividade da indústria brasileira.

As cidades que lideram a produção industrial são as que abrigam maior número de empresas inovadoras, fabricantes de produtos diferenciados e as que mais investem em pesquisa e desenvolvimento. "É animador saber que há focos dinâmicos na economia, mas o País ainda não tem um parque produtivo inovador", diz o presidente do Ipea, Glauco Arbix.

O maior aglomerado industrial está em São Paulo e envolve 120 cidades, entre as quais São José dos Campos, São Carlos e Campinas. "É uma mancha no entorno das vias Dutra e Anhangüera, que se estende para outros municípios", diz De Negri. Esse cinturão é responsável por 42% de tudo o que é produzido no País. "São Paulo confirma-se como o centro primaz da indústria brasileira."

Excluindo São Paulo, há cinco Aglomerações Industriais Espaciais, denominação estabelecida pelo Ipea, na região Sudeste, envolvendo 43 cidades que respondem por 15% da produção industrial. Nessa região, os pólos principais são Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro e Volta Redonda (RJ) e Vitória (ES). No Sul, são mais cinco centros, com 66 cidades, lideradas por Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e Joinville (SC), com 13% da produção.

O Nordeste tem quatro centros, englobando 25 municípios e 6% da produção. Salvador é onde foram encontradas mais empresas dinâmicas, além das regiões metropolitanas de Fortaleza, Natal e Recife. No Centro-Oeste e no Norte não foram identificados centros de concentração industrial. A Zona Franca é considerada um enclave, pois não gera desenvolvimento fora de Manaus.

Na opinião de Arbix, é preciso disseminar a cultura inovadora para dar o salto que o Brasil precisa para crescer 5% ao ano nos próximos 20 anos. Para ele, a atuação do governo deve ser a de facilitar essa trajetória para as empresas. Mas ressalta que uma política industrial não pode mais ser baseada apenas em "abrir a torneirinha", o que já se mostrou ineficiente. Além disso, não há recursos. Ele lembra que as empresas que já deram o salto tecnológico são recompensadas, pois têm maior produtividade, exportam mais, faturam mais e pagam melhores salários.

CONCENTRAÇÃO

A concentração de empresas com importante grau tecnológico é maior do que os pesquisadores projetavam. "Constatamos mais uma faceta da desigualdade no País", diz De Negri. Segundo ele, no mundo todo a indústria cresce de forma concentrada, mas no Brasil o fenômeno é mais acentuado.

Num país como o Brasil, 15 aglomerações espaciais é número "bastante restrito", constata Mauro Borges Lemos, coordenador da equipe do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), parceira do Ipea no estudo.

Lemos alerta para o risco de a política industrial fortalecer a concentração, aprofundando as desigualdades regionais. Para ele, é necessária uma política industrial integrada com a política de regionalização para criar infra-estrutura que atraia empresas de melhor nível para as regiões com fábricas menos produtivas e assim ampliar os espaços geográficos das aglomerações. "É preciso um esforço conjunto dos ministérios, incluindo o da Integração Regional, pois uma empresa não vai querer se instalar num local onde não há rede de esgoto". Segundo De Negri, o estudo foi entregue à Câmara de Política Econômica, que tem representantes de todos os ministérios.