Título: 'Não somos garotos de recados', diz Garcia
Autor: Denise Chrispim Marin Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Nacional, p. A6

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse ontem que os integrantes do governo Lula não são moleques de recado de nenhum país, ao falar sobre a notícia de que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, teria pedido ao presidente Hugo Chávez para que revisse o rompimento do acordo militar entre a Venezuela e os Estados Unidos. "Eu quero insistir uma vez mais: nós não somos garotos de recados de ninguém, nem do presidente Chávez, nem do presidente Bush. Até porque os dois não necessitam." Ele informou que Dirceu foi à Venezuela para conversar com Chávez sobre problemas gerais da região e reconheceu ser possível que a relação conflituosa entre EUA e Venezuela tenha feito parte da discussão. Depois, no entanto, diante da insistência dos jornalistas, Garcia admitiu, em tese, que o clima entre o governo brasileiro e venezuelano é tão bom que permite esse tipo de mediação. E que o pedido para que o governo venezuelano revisse a sua decisão de romper o acordo militar de 35 anos com os americanos pode ter sido feito por Dirceu no encontro com Chávez .

EM TESE

"Em tese, tudo tem sentido. Em conversas políticas tudo tem sentido. Só se tem conversas políticas entre pessoas que tem boas relações", afirmou Garcia na entrevista, logo depois do discurso da secretária de Estado, Condoleezza Rice, no Memorial JK. "Nós temos excelentes relações políticas e pessoais com o presidente Chávez. Então, nós podemos nos permitir a dizer qualquer coisa e ouvir qualquer coisa."

Antes, ao insistir na versão oficial, o assessor afirmou que a própria Condoleezza, em seu discurso, disse se houvesse a necessidade de aprofundar o diálogo entre a Venezuela e os EUA, os dois podem se sentar na mesa de negociação. "Mas se pudermos ajudar, nós ajudaremos", ressalvou.

Na verdade, Garcia resistiu muito antes de admitir o que levou Dirceu a viajar às pressas para Venezuela. Primeiro, assegurou que a conversa já estava marcada há um mês. "Eu, inclusive, deveria ter ido junto. Por uma série de razões relacionadas seja com nossa agenda, seja com a do presidente Chávez, tivemos de cancelar. Eu tinha alguns compromissos aqui e não pude ir."

Garcia acrescentou que não foi a primeira conversa entre os dois e ele próprio já se encontrou com o presidente venezuelano. "Nós já fomos outras vezes conversar com o presidente Chávez e iremos novamente. Da mesma forma que o presidente Chávez enviará pessoas ligadas ao seu ministério para conversar conosco." Esses encontros, assegurou, "fazem parte de um entendimento constante de trocar opiniões sobre problemas políticos".