Título: Falta de blindagem em veículos eleva baixas entre os marines
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Internacional, p. A12

Em 29 de maio de 2004, uma caminhonete cheia de explosivos explodiu numa rodovia de Ramadi, a oeste de Bagdá, matando quatro marines porque faltavam alguns centímetros de aço em seu Humvee - um veículo militar leve - para protegê-los melhor. Os quatro estavam retornando para sua base num Humvee que os soldados tinham reforçado com restos de metal, mas esse escudo improvisado só atingia a altura dos ombros deles, conforme mostraram as fotos dos destroços. E os estilhaços da bomba atingiram a parte de cima do veículo. "O aço não tinha altura suficiente", disse o sargento Jose S. Valerio, chefe da unidade de transporte. Valerio e o militares no comando da unidade, a Companhia E, disseram que os quatro teriam sobrevivido se seu veículo tivesse sido adequadamente blindado. "A maioria dos ferimentos de estilhaços era nas cabeças deles."

Não foram as únicas perdas para a Companhia E durante os seis meses em que esteve alocada em Ramadi, no ano passado. No total, mais de um terço dos 185 militares da unidade foram mortos ou feridos - a mais alta taxa de baixas de qualquer companhia na guerra, disseram oficiais da corporação dos fuzileiros navais.

Ao voltar para casa, os líderes da infantaria dos marines decidiram quebrar um código institucional de silêncio para relatar sua história, que dizem não ter sido marcada apenas pela ausência de blindagem nos veículos, mas pela falta de homens e planejamento, que prejudicaram os esforços nas batalhas, destruíram o moral e arruinaram as carreiras de alguns de seus mais aguerridos combatentes.

A saga da Companhia E, baseada em Camp Pendleton, sul da Califórnia - parte de um célebre batalhão apelidado de "Os Bastardos Magníficos" - é também de coragem e ingenuidade. Eles haviam sido requisitados para livrar a capital provincial (Ramadi) de uma insurgência das mais persistentes. Enfrentaram 26 confrontos, 90 ataques de morteiros e mais de 90 bombas artesanais, enviaram os mortos para casa e seguiram em frente com força. O tour se tornou lendário entre outras unidades dos fuzileiros navais agora servindo no Iraque e enfrentando os mesmos problemas. A Companhia E tinha menos da metade dos homens que fazem hoje esse mesmo serviço em Ramadi.

No ano passado, o governo americano enfrentou forte pressão para equipar melhor as tropas depois que, numa visita ao Iraque, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, ouviu queixas de soldados, que disseram estar usando restos de metais e de veículos blindados para melhorar a proteção de seus Humvees.A experiência da companhia E repercutiu no Congresso dos EUA. Na quinta-feira passada, o Senado aprovou um gasto extra de US$ 213 milhões no orçamento para a aquisição pelo Exército de Humvees com mais blindagem até o fim do ano.