Título: Berlusconi obtém voto de confiança
Autor: Reuters, EFE, AP, France Presse e DPA
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Internacional, p. A13

A Câmara dos Deputados deu ontem um voto de confiança ao novo governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, pondo fim aparentemente à grave crise decorrente do mau resultado da coalizão conservadora dele nas eleições regionais dos dias 3 e 4. O líder italiano obteve o apoio de 334 deputados, ou seja, de todos os representantes da aliança governista, incluindo os dissidentes democrata-cristãos. Votaram contra os 240 membros da frente de centro-esquerda, de oposição. O líder democrata-cristão, Marco Follini, apóia o novo governo, mas sem nenhum entusiasmo ou esperança. "Decidimos pela confiança com sentido de responsabilidade e espírito construtivo e expressamos nosso voto com frieza, mas também sem esperanças, como convém nesta fase difícil que o país e a política atravessam", insistiu ele. O líder da católica União Democrata-Cristã (UDC) foi o único dirigente conservador a criticar a euforia manifestada por Berlusconi, que discursou antes da votação.

Berlusconi investiu violentamente contra a oposição de centro-esquerda, a grande vencedora das eleições regionais do início do mês que mobilizaram mais de 40 milhões de eleitores em 13 províncias. O líder italiano deixou de lado seu novo programa de governo e atribuiu a atual situação da Itália ao que classificou de "problemas do passado e estruturais".

Berlusconi chamou seus adversários da oposição de centro esquerda de "políticos catastróficos". Ele disse estar absolutamente convencido de que ganhará as próximas eleições gerais, marcadas para junho de 2006. "As esquerdas não acreditam que tenho a vitória no bolso", insistiu ele, numa referência a pesquisas de opinião que lhes são favoráveis.

Berlusconi explicou sua humilhante derrota nas eleições regionais (por uma diferença de mais de 2 milhões de votos), afirmando que os eleitores da coalizão de centro-esquerda são mais disciplinados, enquanto os da direita têm mais sentido crítico.

De dedo em riste, dirigiu-se em tom provocador à bancada oposicionista: "Os italianos são sensatos, sabem que vocês dominam a imprensa e a magistratura, por isso não querem dar-lhes também o governo porque a democracia fundamenta-se em pesos e contrapesos."

Piero Fasino, líder dos Democratas de Esquerda (maior partido de oposição), qualificou a intervenção de Berlusconi de delirante: "A Itália é grande, mas quem a guia é pequeno, inadequado, incapaz de fazê-la seguir adiante..."