Título: Analistas discutem o impacto da freada
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B4

Depois de alguns meses de indicadores contraditórios, economistas agora enxergam sinais claros de desaquecimento na economia. Perda de dinamismo na indústria, queda nas importações de matérias-primas, baixa na confiança dos empresários e aumento do desemprego apontam para uma tendência de desaceleração da atividade. "A economia está perdendo o fôlego", diz Celso Toledo, economista-chefe da MCM Consultores Associados. "Os indicadores estão confirmando essa tendência de desaceleração." Para Toledo, a economia está desacelerando por causa de um processo de acomodação natural e também como conseqüência da política monetária apertada. Mas a atividade está refletindo aumentos de juros feitos ainda no ano passado. As últimas elevações da Selic, atualmente em 19,5%, ainda não afetaram a economia. E é aí que mora o problema.

"Há um perigo de a economia se desaquecer mais do que o desejado", diz Toledo. "O aperto monetário pode ter passado do ponto." Toledo projeta um crescimento do PIB de 3,2% neste ano, diante de 5,2% no ano passado.

O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore afirma, em relatório para clientes, que os indicadores econômicos não delineiam um quadro econômico bonito para 2005. Segundo ele, o comportamento da produção industrial indica que o crescimento do PIB não vai passar de 3,5% em 2005, abaixo da projeção média do mercado de 3,67% e da do governo Lula, de 4%. E, segundo Pastore, mesmo para atingir esse desempenho, o crescimento nos próximos três trimestres requer juros reais menores.

Monica Baer, economista da MB Associados, preocupa-se com as fracas vendas do varejo e a queda na importação de bens intermediários. "Ainda não sentimos o efeito total da alta de juros, há risco de desacelerar demais ", diz Monica. Ela ainda espera a divulgação dos indicadores de produção industrial do IBGE, que saem na sexta-feira que vem, para analisar se a tendência de queda é bastante clara. E ela aponta para o reajuste do salário mínimo, em maio, como fator de estímulo à atividade.

Já Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, não vê sinais claros de desaceleração. "Acho que a economia estava em franco desaquecimento no final do ano passado, mas agora voltou a crescer, ainda que em ritmo bastante fraco", diz Borges.

Ele projeta que a produção industrial no primeiro trimestre deve ter crescimento zero, e voltar a acelerar no segundo trimestre. Ele também aposta no aumento do salário mínimo como fator de dinamismo. Borges estima um crescimento, de 0,1% nas vendas do varejo do trimestre. As vendas do comércio cresceram 1% no último trimestre de 2004, em relação ao trimestre anterior. "Acho que estamos com um crescimento mais equilibrado", acredita o economista.