Título: Cai ritmo de expansão da indústria
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B5

A indústria pôs o pé no freio e desacelerou o ritmo de crescimento. É o que indica a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o trimestre iniciado em abril. As previsões são otimistas, mas menos do que no mesmo período do ano passado. "Os empresários estão descobrindo que a economia brasileira continua medíocre", disse o economista da FGV Samuel Pessôa, para quem não há condições, no País, de um crescimento sustentado muito maior do que 3% ao ano. A análise do coordenador do núcleo da FGV, responsável pela pesquisa, Aloísio Campelo, é de que há uma suave desaceleração da indústria. "Não é um pouso forçado. É leve", disse. A sondagem mostra sinais contraditórios. "Parece que a gente vive uma situação esquizofrênica", observou Pessôa.

O quadro que aparece das respostas das 990 empresas entrevistadas - responsáveis por um faturamento anual de R$ 374 bilhões - é de que, em relação ao trimestre iniciado em janeiro, houve piora em importantes indicadores. A situação dos negócios, que 92% haviam classificado como boa ou normal e apenas 8% como fraca na pesquisa anterior, foi definida agora como boa ou normal por 81%, enquanto mais do que dobrou a percepção de que o momento é fraco: 19%.

O nível de demanda também é considerado fraco para 15% das empresas; o índice anterior era de 13%. Por fim, o nível de estoques teve o pior resultado desde 2003: 2% das empresas o consideram insuficiente e 10%, excessivo. A diferença de 8 pontos porcentuais entre os dois extremos - que dá a dimensão da real situação empresarial - é a maior dos últimos sete trimestres e indica, segundo avaliação da FGV, desaceleração da taxa de crescimento econômico. No trimestre anterior, esta diferença era de 5 pontos e chegou a ser zerada em outubro de 2004, quando exatamente 5% consideravam os estoques excessivos e outros 5%, insuficientes, enquanto 70% diziam estar normal e 16% não tinham estoques.

Em contrapartida, quando indagadas sobre as perspectivas para o futuro, as empresas consultadas ainda revelam projeções otimistas. O porcentual das que prevêem aumentar a produção nos próximos meses passou de 28% em janeiro para 58%, nível superior até ao de abril de 2004, quando a indústria estava a todo vapor. A parcela das que prevêem contratar funcionários aumentou de 20% para 29%. Mas também aumentou a proporção das que pretendem aumentar preços: de 35% em janeiro para 43% este mês, apesar de o Banco Central (BC) ter continuado a elevar o juro básico.

A utilização da capacidade instalada voltou para os níveis de julho do ano passado, de 84,4%, diminuindo em relação a outubro (85,1%) e janeiro (84,6%), com dessazonalização (tratamento estatístico para eliminar efeitos de variações específicas a determinadas épocas do ano). Mas sem esse ajuste, o uso da capacidade instalada foi de 84,2%, o maior nível para o mês de abril desde 1995, indicando que a desaceleração se dá com um nível de atividade ainda alto.

De 21 setores industriais pesquisados, só 4 usam a capacidade acima dos seus níveis históricos: metalurgia, mecânica, têxtil e madeira. "A única maneira como que eu consigo casar tudo isso é que a rentabilidade não deve estar muito alta", disse Pessôa. A pesquisa não aborda a rentabilidade.

Segundo ele, o grande limitador ao crescimento da economia brasileira é a situação fiscal. Para Pessôa, as despesas do setor público precisam diminuir para que a carga tributária também seja reduzida, dando espaço para o aumento do potencial de crescimento sustentado. Para Campelo, a desaceleração no primeiro trimestre foi maior do que os industriais esperavam. A sondagem teve respostas coletadas entre 28 de março e a última segunda-feira.