Título: 3,3 milhões recebem abaixo do mínimo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B4

Uma parcela significativa dos trabalhadores brasileiros ganha abaixo da remuneração mínima fixada pela legislação. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16,7% dos 19,6 milhões de ocupados nas 6 principais regiões metropolitanas do País, ou 3,3 milhões de pessoas, ganhavam menos de um salário mínimo em março. As estatísticas mostram também que o porcentual dos trabalhadores das maiores cidades brasileiras que ganham menos do que o mínimo vem crescendo nos últimos anos. Em março de 2002, esse porcentual atingia 11,1%; no ano seguinte, pulou para 14,4% e em março de 2004 chegou a 16,2%.

No outro extremo, a parcela dos que ganham mais de 10 salários mínimos e ocupam o topo da pirâmide de distribuição de renda entre os ocupados caiu de março de 2002 (8,4%) para 2003 (6,3%), mas permaneceu praticamente inalterada em 2004 (6,5%) e 2005 (6,1%).

O coordenador da pesquisa mensal de emprego do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, disse que a tendência é que o porcentual dos que recebem menos de um salário aumente a cada reajuste do mínimo.

Pereira explica que, na economia real, os reajustes salariais obedecem datas diferentes e não ocorrem na mesma proporção do mínimo ou na mesma velocidade. Por causa disso, quando a referência do salário é elevada, imediatamente novos ocupados passam a figurar abaixo desse limite.

Os números divulgados por Pereira apontam também que 64% do total de ocupados, ou seja, 12,5 milhões de pessoas, ganhavam até três salários mínimos em março, ou menos de R$ 780. O valor é bem menor do que o rendimento médio real apurado nas seis regiões pesquisadas pelo IBGE em março, de R$ 945,20, o que demonstra que uma parcela pequena dos trabalhadores tem puxado a renda para cima.

'INFORMALIDADE

O analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo de Ávila, disse que o número elevado de ocupados que ganham menos de um salário mínimo pode estar relacionado à elevada informalidade que ainda persiste no mercado de trabalho e também àqueles trabalhadores que contribuem para a renda da família, mas não são os chefes do lar.

Os dados do IBGE mostram também que, no que diz respeito ao grau de instrução dos ocupados nas seis regiões pesquisadas, 50,2% têm 11 anos ou mais de estudo, ou pelo menos o segundo grau completo.

A renda média dessa fatia é de R$ 1.382, ou 5,3 salários mínimos.

Pereira explica que os dados não são incompatíveis com os dados de sub-remuneração divulgados porque esse rendimento mediano está sendo puxado pela parcela dos que ganham mais de 10 salários, que representam uma fatia insignificante do número absoluto de trabalhadores.