Título: Cliente vai atrás de juro mais baixo
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B7

Ao contrário do que disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o brasileiro não está acomodado em pagar juros altos. Mas, em vez de trocar de banco, como sugeriu o presidente, o consumidor tem procurado modalidades de crédito mais baratas. A prova está nos números divulgados ontem pelo Banco Central (BC), que mostram crescimento de 10% dos empréstimos com desconto em folha em março, chegando a R$ 15,421 bilhões. Ao mesmo tempo, os financiamentos por meio de cartão de crédito caíram. "O volume de empréstimos do cartão de crédito teve queda de 4,1% em março, em parte por esta troca entre as modalidades de crédito", disse o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes. Os juros do empréstimo consignado são de 37,1% ao ano, ante 74,4% do crédito direto pessoal e taxas ainda mais elevadas em cartões de crédito. Já os empréstimos com o cheque especial continuaram a subir em março.

Os dados do BC contrariam outra afirmação do presidente Lula: a de que os juros altos não estão afetando o consumo. A média de empréstimos concedidos a cada dia foi de R$ 4,920 bilhões em março, ante R$ 5,202 bilhões em fevereiro. Ou seja, houve redução de 5,4%. O juro elevado estaria, portanto, inibindo decisões de tomar financiamento para consumir ou investir. A retração atingiu pessoas físicas e empresas. O volume diário de crédito no primeiro trimestre ainda está 5,2% maior do que o observado em igual período de 2004. No entanto, o dado mais recente aponta para queda, depois de oito meses de sucessivas altas da taxa básica de juros.

Os números divulgados ontem mostram que ficou mais caro para as empresas tomar empréstimos para capital de giro e aquisição de bens. No primeiro caso, a taxa anual subiu de 27,9% em fevereiro para 28,4% em março. No segundo, de 25,6% para 26,6%. Para as pessoas físicas, houve ligeiro recuo na taxa do cheque especial (56,3% para 55,3%) e no crédito pessoal (75,3% para 74,4%). Porém, subiu o custo do crédito para a compra de veículos (17,8% para 18,3%).

No mês passado, os juros dos empréstimos com desconto em folha recuaram de 37,4% de fevereiro para 37,1%. "O custo é mais baixo nessas operações porque a garantia é melhor e a concorrência é mais acirrada", disse o chefe do Depec. De janeiro do ano passado a março último, os juros dessa modalidade de crédito criada por iniciativa do governo Lula caíram 4,3 pontos porcentuais.

Segundo Altamir Lopes, o empréstimo com desconto em folha ainda tem espaço para crescer entre os aposentados. "Até o início de abril, temos 2 milhões de operações desse tipo e o número de aposentados que podem acessar esta modalidade é de 18,6 milhões de pessoas."