Título: Para Levy, ação do BC é correta
Autor: Sérgio Gobetti e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B7

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, defendeu as decisões do Banco Central acerca do juro básico, apesar dos efeitos negativos sobre a dívida pública. O combate à inflação, disse, é prioridade do governo, mesmo que custe um esforço um pouco maior para reduzir o nível de endividamento. "Não tenho preocupação exagerada com a dívida pública, porque a política fiscal segue numa direção bem conhecida", disse Levy, ao final de um seminário com representantes do Fundo Monetário Internacional para discutir a melhoria da qualidade dos investimentos públicos. Em outras palavras, Levy informou que o governo vem gastando menos do que arrecada num volume suficiente para evitar um crescimento desordenado do endividamento.

Atualmente, 56,98% da dívida federal é composta por títulos indexados à taxa Selic, que é controlada pelo BC. Essa dependência em relação à política monetária foi um dos elementos citados na segunda-feira pela diretora do Departamento de Relações Fiscais do FMI, Teresa Ter-Minassian, para caracterizar o que chamou de vulnerabilidade da dívida brasileira.

"Acredito que da mesma forma que a gente teve sucesso em diminuir de maneira muito significativa a proporção da dívida indexada ao dólar, vamos ter sucesso também em diminuir esta parte da dívida indexada à taxa de curto prazo administrada pelo Banco Central", disse o secretário.

Questionado sobre o insucesso do BC em controlar a alta de preços com a elevação da Selic, Levy admitiu que a inflação não tem estado tão baixa, mas negou que isso se deva à elevação dos gastos públicos, como sugeriram muitos analistas. "A política fiscal está cumprindo o seu papel, porque não está exacerbando o excesso de demanda", disse, referindo-se à decisão do governo de conter os gastos correntes e aumentar os investimentos públicos, que por sua vez podem estimular as empresas a investir mais e oferecer mais produtos.

Para o secretário, o ciclo de altas de juro do BC não estaria afetando as decisões dos investidores privados porque as mesmas se baseiam na taxa de juro de médio prazo, e não de curto prazo. "O juro real de médio prazo caiu significativamente desde 1998. O juro de curto prazo não caiu, mas também não está num patamar muito diferente, muito mais alto", afirmou.

Falando novamente sobre a política fiscal, Levy lembrou que a meta de superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros) fixada para o primeiro quadrimestre deste ano é mais alta do que no mesmo período do ano passado, o que indicaria uma ação para conter o consumo por parte do governo.