Título: Brasil não vota na OMC e recebe críticas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B10

O Brasil abandona, pelo menos nesta fase, o processo eleitoral para a escolha de um novo direitor para a Organização Mundial do Comércio (OMC). A notícia chegou como surpresa e decepção em Genebra. O Estado antecipou terça-feira que o País poderia não pedir uma audiência com a presidente do Conselho Geral da OMC, Amina Mohamed, para dar seu voto. Ontem, depois de escutar mais de 140 países, ela concluiu a segunda rodada de votações. O Brasil não apareceu para votar. O País possuía um candidato no início da corrida para a direção da OMC, Luis Felipe de Seixas Corrêa. Ele foi eliminado na primeira fase, concluída há duas semana. Ficaram no páreo o francês Pascal Lamy, o chanceler de Ilhas Maurício, Jaya Krishna Cuttaree, e o uruguaio Carlos Perez del Castillo. Nos corredores da OMC, ontem, os rumores eram de que o uruguaio teria recebido o menor número de votos entre os três candidatos, mas a confirmação dos dois nomes que ficarão para a próxima fase será anunciada entre hoje e amanhã.

Por enquanto, porém, o que chamou a atenção de muitos foi a ausência do Brasil. "Os países estão participando seriamente do processo. Todos devem participar. É a responsabilidade de todos escolher o novo diretor", disse a presidente. Mas, horas depois, ela ressaltou: "Cada país tem o direito de se expressar sobre a votação. E essa forma que escolheu o Brasil é uma das maneiras."

Outros foram mais diretos. "É uma atitude quase infantil", afirmou um embaixador latino-americano, que acredita que o Brasil poderia dar sinal de grandeza de espírito ao apoiar alguém da região. "A América Latina esperava algo do Brasil", completou outro diplomata, lembrando que até países sem representações em Genebra mandaram seus votos por fax.

A missão do Uruguai preferiu não comentar a decisão brasileira. A mesma tática foi usada pelo atual diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi

Segundo um alto funcionário da missão da Índia, a posição brasileira de não votar deve ser entendida sob um ótica latino-americana. O Brasil teria deixado de votar nesta fase para não ter de dar seu voto a Perez del Castillo, acusado pelo Itamaraty de não favorecer os interesses dos países emergentes. Segundo o indiano, com a possibilidade de o uruguaio não chegar à final, o Brasil então voltaria a participar das eleições na fase decisiva.

E se de fato essa avaliação estiver correta e Perez del Castillo for eliminado, o Brasil poderá ter conseguido atingir parte de seu objetivo. Ninguém no Itamaraty esconde que um dos motivos da candidatura do Brasil era para impedir a vitória do uruguaio. Sem o apoio do Brasil, ele não conseguiu nem mesmo reunir todos os votos dos grandes países em desenvolvimento na segunda fase. A Índia que havia votado em Seixas Corrêa no primeiro turno, por exemplo, votou agora no representante das Ilhas Maurício. Ela espera que o Brasil também vote por Cutaree em uma eventual final contra Lamy.

"Neste caso, entraríamos em uma lógica de enfrentamento dos países em desenvolvimento contra países desenvolvidos e esperamos que o Brasil tome uma posição favorável a Cutaree", concluiu o negociador indiano.

Uma decisão final sobre quem será o novo diretor precisa ser tomada até o final de maio.