Título: Reação do PIB pode conter juro americano
Autor: Fábio Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B11

Após a divulgação da queda de 2,8% nas encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos em março, muitos analistas em Wall Street acreditam que, se o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano vier abaixo das expectativas, o mercado poderá voltar a apostar numa pausa do Federal Reserve (Fed) do aperto monetário numa das próximas reuniões do Fomc (Comitê de Política Monetária) até o fim do ano. Por enquanto, a maioria do mercado espera aumentos de 0,25 ponto porcentual nas reuniões restantes do Fomc. O economista global do ING Financial Markets, James Knightley, projeta aumento de 3,5% do PIB no primeiro trimestre, mas considera bastante provável que esse número fique abaixo das suas expectativas e do consenso do mercado (que é de 3,5%).

"Deve ter ocorrido algum impacto em termos de problemas sazonais no resultado das encomendas de bens duráveis de março, mas a realidade é que se percebe uma fraqueza em todos os itens. As encomendas de bens de capital não-militares, por exemplo, um bom indicador para investimentos, caíram em março 4,7% sobre o mês anterior depois de já terem apresentado queda de 2,5% em fevereiro. Não me surpreenderia se o PIB do primeiro trimestre vier mais próximo de 3% do que de 3,5%", afirmou Knightley.

Se o resultado do PIB decepcionar, Knightley acredita que o mercado não reagirá fortemente, já que está próximo da divulgação do relatório de empregos e de criação de vagas de trabalho. "Contudo, o mercado não deverá se concentrar em dados que refletem o passado, mas deverá olhar para o futuro. Como reflete também a direção da economia, o mercado vai começar a falar mais sobre uma possível pausa do Fed em alguma reunião do Fomc."

Knightley não descarta que as encomendas de bens duráveis possam apresentar recuperação mais forte em abril, uma vez que a Páscoa poderia ter afetado o desempenho em março. Já o economista-chefe para Estados Unidos do Banco BNP Paribas, Bryan Fabbri, projeta um crescimento de 3,5% do PIB americano no primeiro trimestre deste ano.

"Há alguns meses, eu projetava crescimento ao redor de 4% para o primeiro trimestre de 2005", disse Fabbri. Segundo ele, embora as encomendas de bens duráveis nos EUA tenham apresentado fraco desempenho nos três últimos meses, comparado com o ano passado, o resultado dessas encomendas ainda está bastante forte, "na faixa dos dois dígitos".

Se o desempenho do PIB do primeiro trimestre decepcionar, ele acredita que o mercado vai, de fato, falar mais ou apostar mais numa eventual pausa do Fed numa das reuniões do Fomc. "Falar é uma coisa, mas a minha aposta é que o Fed prosseguirá aumentando os juros em 0,25 ponto porcentual nas reuniões restantes do Fomc neste ano." SP UE espera milagre na questão do açúcar OMC divulgará hoje o resultado final

do contencioso movido pelo Brasil J.C. GENEBRA A União Européia (UE) ainda espera um "pequeno milagre" na disputa com o Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), referente aos subsídios ao açúcar. Hoje, os juízes da entidade divulgarão o resultado final do contencioso. Em primeira instância, o Brasil saiu como o grande vencedor e os subsídios foram condenados. Na apelação, Bruxelas, apesar de admitir que dificilmente conseguirá reverter a derrota, espera uma redução do volume de açúcar subsidiado que terá de retirar do mercado internacional. Os juízes, porém, terão de considerar válida uma nota de rodapé no acordo agrícola dos anos 90, que isenta os europeus de certas obrigações em termos de subsídios.

Em 2004, Brasil, Austrália e Tailândia entraram com uma queixa na OMC contra os subsídios europeus. Segundo a OMC, os europeus teriam o direito de exportar 1,3 milhão de toneladas de açúcar subsidiado, mas colocaram 4,7 milhões de toneladas. Na avaliação do governo brasileiro, se o excedente da UE fosse retirado do mercado, o País aumentaria as exportações em US$ 400 milhões. A OMC concordou com o Brasil que o volume excedente de exportação ultrapassou o limite permitido.

PREJUÍZOS

O problema é que parte da vitória legal do Brasil se refere ao açúcar importado pela UE do grupo de países pobres conhecido como ACP (África, Caribe e Pacífico). O governo questionava o fato de Bruxelas estar reexportando o 1,6 milhão de toneladas que compra desses países.

Com um mercado interno saturado por causa da superprodução gerada pelos subsídios, a Europa não tem outra alternativa senão desviar o produto para outros mercados, afetando de novo o Brasil. A UE alega que uma nota de rodapé no acordo agrícola de 1995 aponta que essas reexportações não seriam incluídas nos compromissos.

Na primeira avaliação, a OMC deixou claro que a nota de rodapé não tem efeito legal. Mas a UE espera que os juízes reconsiderem a questão. O Brasil insiste que uma nota de rodapé não pode prevalecer sobre um acordo. SP País é hostil, acusam industriais argentinos Presidente da UIA reclamou do BNDES e da desnacionalização crescente das empresas na Argentina ARGENTINA Ariel Palacios Correspondente BUENOS AIRES Nem bem foi empossado como presidente da União Industrial Argentina (UIA), o empresário Héctor Méndez já criticou o Brasil, principal parceiro comercial argentino. Ele acusou o País de ter atitude de "hostilidade" por causa dos fundos que destina, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para investimentos de empresas brasileiras no território argentino.

No comando do principal reduto dos pedidos protecionistas na Argentina contra os produtos brasileiros, Méndez alertou para o risco da "desnacionalização" - a venda de empresas tradicionais do país para capitais estrangeiros. Grande parte das empresas nativas foi vendida a capitais europeus, americanos e canadenses nos anos 90, mas o presidente da UIA focalizou as críticas nas compras realizadas por brasileiros.

"Se o clima é hostil", afirmou, os investimentos argentinos no país serão "mais lentos". Méndez sustentou que as compras da empresa de cimento Loma Negra (que controla 48% do mercado local) pela brasileira Camargo Correa, e da empresa do setor energético Pérez Companc, que passou ao controle da Petrobrás, além da cervejeira Quilmes, controlada pela AmBev, foram realizadas graças aos financiamentos com taxas de juros baixas do BNDES. "Os empresários argentinos não têm o menor apoio para se expandir no exterior, muito menos para competir no mercado interno", lamentou no discurso de posse.

Várias famílias da burguesia industrial argentina venderam nos últimos dez anos as empresas criadas por pais e avós no início do século. Mas, em vez de se dedicarem a empreendimentos produtivos, destinaram os recursos à especulação imobiliária. Segundo Méndez, os empresários argentinos têm vocação industrial, mas, com o clima "hostil", "é normal que alguns joguem a toalha".

Para Méndez, o governo do presidente Néstor Kirchner precisa criar uma política industrial que evite "lamentos" sobre as vendas.

Os empresários provenientes do Brasil controlam mais de 60% da produção de aço, um terço do mercado de combustíveis, quase metade do cimento e dois terços da cerveja consumida na Argentina. Informações extra-oficiais indicam que o avanço brasileiro está tirando o sono de Kirchner. Oficialmente, o governo tenta passar a imagem de calma. Ontem, em conversa com os correspondentes brasileiros, o secretário de Relações Econômicas Internacionais, Alfredo Chiaradía, foi enfático: "Não há preocupação. As aquisições brasileiras ajudam na integração entre os dois países."

BANCO SAFRA

Informações extra-oficiais na city financeira portenha indicam que o Banco Safra estaria interessado em desembarcar em território argentino. O banco fez um ensaio para se instalar em Buenos Aires nos anos 90, e parece ter interesse em adquirir os ativos do grupo holandês ING Bank na Argentina.