Título: Anarquistas e exílio levaram autora a escrever livro
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2005, Nacional, p. A11

Iza Salles começou a pensar em escrever a trajetória de Canellas quando, exilada, conheceu anarquistas espanhóis. Pouco depois uma amiga, Nilda Alves, antiga militante do PCB, lhe entregou o dossiê sobre a expulsão de Canellas, O Processo de Um Traidor, editado pelo Partidão em 1924. Percebeu que aquela perseguição não tinha nenhuma sustentação ideológica ou moral. Mais tarde, Iza descobriu que Boris Souvarine, fundador do PC francês e um dos principais acusadores de Canellas, estava vivo. Embora nunca conseguisse uma entrevista, os dois trocaram correspondências até a morte do dirigente (que, aliás, caiu em desgraça). No Brasil, os carrascos de Canellas foram os dirigentes Octavio Brandão e Astrojildo Pereira, que logo depois cairiam em desgraça no Partidão e foram obrigados a fazer várias autocríticas.

O dossiê da expulsão de Canellas perdeu-se na poeira sem glória do velho PCB, talvez pela indignidade de suas conclusões. "É necessário dissecar esse cadáver", dizia o texto elaborado para condenar um jovem que só pretendia discutir idéias de forma aberta e livre. "Vocês querem me matar como homem e revolucionário, mas eu sou muito jovem para morrer", respondeu Canellas. Ele resistiu bravamente ao processo de expulsão e fez jornais operários .

Quando a década de 20 terminou, o núcleo de nove fundadores do PCB estava reduzido a Astrojildo Pereira. A "tribo do nhô, sim", como jocosamente ironizava Canellas, tinha sido varrida. "Era preciso ter coragem para dizer 'não' naquele tempo", registra Iza. Um Cadáver ao Sol lembra que a Internacional Comunista foi extinta em plena guerra, em 1943, sem que nenhum partido comunista tenha chegado ao poder seguindo as suas orientações.