Título: Ibama quer reserva para ribeirinhos
Autor: Liège Albuquerque
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2005, Vida&, p. A23

MANAUS - O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) enviará nas próximas semanas um pedido de urgência ao governo federal para a criação de uma área de reserva extrativista de pelo menos 200 quilômetros de extensão, ao longo do Rio Aripuanã, em Apuí, a 220 quilômetros de Manaus. O pedido de socorro ao Ibama e à Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi reforçado no último fim de semana por cerca de 150 famílias de ribeirinhos, que vivem acuadas por grileiros na área.

No local, conforme fotos feitas pelo Ibama, existem placas dos grileiros em que se colocam até o telefone dos supostos "donos" das terras. Há sinalizações como "Fazenda Andorinha - Proibidas a Caça e a Pesca", "Fazenda Aline - Proprietário Antônio Guimarães" e "Fazenda Santa Fé - Área Ocupada pelo Grupo Reunida - Proibidas a Caça, a Pesca e a Entrada de Pessoas Estranhas - Extensão 54 km - Responsável: Chicão".

Ao lado do nome Chicão, há um número de telefone. A reportagem entrou em contato, mas ninguém atendeu. O Ibama solicitou a não divulgação dos telefones para garantir a segurança dos ribeirinhos. "Junto com a reserva, tem de ser levada uma força policial, para proteger famílias que estão sendo acuadas, proibidas de caçar para a própria subsistência e ameaçadas de morte pelos grileiros", denuncia o coordenador do Centro de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável do Ibama, Leonardo Pacheco, que voltou da área na terça-feira, após a quarta visita consecutiva à região.

"Os grileiros aterrorizam as comunidades ribeirinhas, que lá não têm água, luz, posto de saúde e nem sequer um posto telefônico. Se não formos até eles para ouvi-los, eles não têm como vir até nós", comentou a coordenadora da CPT no Amazonas, Márcia Valéria Cunha.

Ela explica que para visitar as comunidades ameaçadas em Apuí, que conta com apenas um vôo comercial semanal, saindo de Manaus, é necessário viajar novamente de carro por mais de duas horas em um trecho de cerca de 170 quilômetros, esburacado e sem asfalto, na BR-230, a Transamazônica.

TEMOR

A CPT e o Ibama chamam a atenção para o fato de o cenário do sul do Amazonas ser o mesmo que motivou a criação da reserva da Terra do Meio, no Pará, área onde foi morta a missionária Dorothy Stang. "Se os grileiros já mataram uma missionária por lá, temo que não seja difícil acontecer o mesmo no Amazonas, se não ouvirem com urgência o pedido de socorro dos ribeirinhos do local", alerta Pacheco.

A Terra do Meio é dos territórios menos explorados na porção leste da Amazônia. O sul do Estado é ainda mais inóspito. A área é considerada uma das mais ricas em biodiversidade em todo o País e se encontra habitada por comunidades que vivem da pesca e da agricultura de subsistência.