Título: Ex-presidente diz que chega de saudade e pede o 'comichão do futuro'
Autor: João Domingos e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Nacional, p. A4

FUTURO: "Eu não queria que o tom do nosso encontro fosse o diário da saudade, mas o comichão do futuro. E nós já estamos sentindo o comichão do futuro. " VOTAÇÃO DA LRF: "Ao ler a lista das votações ( da LRF) fiquei um pouco chocado. Porque nove ministro do atual governo, nove, votaram contra a lei, inclusive - eu não gostaria de dizer isso porque eu gosto dele - o Palocci. Os líderes todos, o Genoino, que vive cobrando de mim austeridade lá atrás no primeiro mandato." LULA TUCANOU?: "Até me perguntaram: será que o presidente Lula é um neotucano? A esse ponto eu não chego, mas alguma coisa aprendeu, sem dúvida. Mas eu acho até bom porque a Lei de Responsabilidade Fiscal é da Nação, não é dos tucanos, nem dos aliados tucanos, a lei é do Brasil". PAULO BERNARDO: "O ministro Paulo Bernardo (Planejamento), que naquela época era secretário da Fazenda (de MS), foi tão estrito num encontro comigo que eu disse: 'Paulo, se eu soubesse que você era assim, dispensava o FMI. Você é o pré-FMI'." BALBÚRDIA FISCAL: "Ninguém pagava ninguém, todo mundo deixava de pagar. O governo federal não sabia quem devia. Levamos anos construindo a decência do Brasil. Agora vejo que o ministro da transparência - o Waldir Pires - votou contra a transparência." GOVERNO LULA: "Este país precisa de caminho novo, pois aqueles que vieram anunciando a boa nova, meu Deus! Quando dá certo, é porque é tucano, quando não dá, é apagão de gestão." COBRANÇAS: "Fico perplexo quando alguém vem cobrar responsabilidade fiscal no meu primeiro mandato. Estávamos tentando tirar o poder público da boca dos bancos privados. Por isso, na ocasião, se endividou. Estão errados quando dizem que a dívida cresceu no meu governo. Não é verdade." DERRAMA: "Estados e municípios estão sofrendo realmente uma derrama, porque as condições foram mudadas. Dentro dessa nova realidade, precisamos repensar na responsabilidade fiscal como instrumento para os objetivos nacionais de recompor a economia dos Estados, municípios e sobretudo da população. " JUROS: "Quando se discutia a lei (fiscal), diziam que o dinheiro era para pagar o FMI. Estavam errados. Poderiam dizer que eu pagaria os banqueiros nacionais, porque a dívida interna é bem maior que a dívida externa. Naquelas circunstâncias tive de usar as taxas de juros sim, e muito por conta da dívida externa. Agora, cada vez mais vejo a apreensão da sociedade: 'Lá vem o Copom', lá vem o susto - e susto em dia de sol azul. Há muito tempo a economia internacional não é tão brilhante como tem sido nesses últimos anos." CRESCIMENTO: "Na América Latina, o Brasil cresce abaixo da média. A economia mundial é favorável. A China produziu um tsunami de exportações no mundo todo. Tudo é favorável. E, com tudo favorável, não é que ainda vão arranjar argumentos para aumentar mais a taxa de juros? Alguma coisa está complicada." PSDB E ELEIÇÃO: "Estou convencido que temos uma energia enorme. Essa energia não é nossa. É do nosso povo. Porque é o povo que aprendeu o gostinho da estabilidade, do crescimento, da decência, até, cuidado, alguns setores estão um pouco difíceis nessa área, mas de qualquer maneira as pessoas estão sabendo, estão começando a olhar, com certa inquietação esses aspectos. O povo aprendeu, porque não é de agora que passamos por muitos processos. As lutas vêm de longe para que possamos construir uma grande nação como nós estamos construindo. O povo sabe, o povo sente. Se é assim, esse momento de hoje é um momento importante, porque é um momento para recordar e avançar. Não é recordar e ficar com nostalgia. Nós queremos mais. E podemos dar mais ao País." SEGURANÇA: "Um tema que toca diretamente a população hoje é a questão da segurança no Brasil. Chegou a um ponto tal que é preciso que haja uma convergência de vários níveis de governo, de partidos, e entre os vários órgãos encarregados da segurança. Não há fórmulas mágicas, mas há decisões que são importantes de serem tomadas. Para mudar, é preciso encarnar uma vontade firme, mas firme mesmo."