Título: FHC ataca política monetária e dá o tom da campanha de 2006
Autor: João Domingos e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Nacional, p. A4

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem a festa de aniversário dos cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em Brasília, para pôr na rua a candidatura do PSDB à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dar o mote da campanha. Um deles será o combate à inflação sem ter como única opção o aumento dos juros, fórmula aplicada pela equipe econômica atual. "Quem vier a assumir em 2006 terá de encontrar essa resposta", disse ele. Outros dois motes são os da melhoria da segurança pública e da reforma política. Fernando Henrique deixou claro que o candidato tucano será o que ele bancar. Olhando para onde estavam os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas, Aécio Neves, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o senador Tasso Jereissati (CE), os quatro favoritos, o ex-presidente disse: "Alguém daqui vai ser o nosso candidato e eu vou apoiar com toda energia."

Todos os quatro sentaram-se à mesa de Fernando Henrique durante o almoço. Mas o ex-presidente defendeu a proposta de que o nome só seja escolhido depois de novembro, quando o PSDB renovará toda a sua estrutura dirigente. Quando indagado se é candidato, afirmou: "De modo nenhum, de modo nenhum. Sou cabo eleitoral." Mas o deputado Jutahy Júnior (BA) não resistiu: "O candidato é o senhor. Não há nome melhor."

MÍNIMO

No discurso e nas tumultuadas entrevistas, Fernando Henrique atacou o governo Lula e a política do PT. Disse que o salário mínimo de R$ 300, tão comemorado por Lula, não representa o que o presidente diz ser. "Quando olho o salário mínimo, fico até assustado. O presidente Lula tem de fazer um esforço, porque ele prometeu muito. Nestes quase três anos (de governo do PT) o salário mínimo cresceu 11%, e no meu governo, em oito anos, cresceu 44%. No meu período, a média foi mais alta do que a de hoje", afirmou. "Para alguém que vem da luta sindical e me criticava incessantemente, porque não havia melhores salários, ficou feio", comentou. "Eu espero que ele recupere o salário mínimo porque está muito feio."

O excesso de gastos do governo também foi criticado pelo ex-presidente. "A Previdência Social está realmente sem controle, os gastos cresceram muito e as nomeações e contratações são incessantes", disse Fernando Henrique. "Quem deve estar preocupado, e acho que está, é o ministro da Fazenda", observou. "Eu vejo que, fora da área mais limitada - os Ministérios do Planejamento e da Fazenda -, o resto não está nem aí. Está pensando que gastar todo dia não conta no fim do ano, não soma para mostrar qual é o déficit."

Dirigindo-se aos tucanos presentes à solenidade, Fernando Henrique disse que o PSDB tem "um estilo de governar" e a Lei de Responsabilidade Fiscal é uma marca da legenda. Ele estimulou seus correligionários, no entanto, a buscar uma agenda para o futuro. "Este não é um momento de ter saudades, mas de criar um clima de comichão do futuro", pregou. "O futuro nós vamos construir unidos, os vários partidos, mas pensando no Brasil. Essa é a marca que nós temos de deixar com nossa ação. Hoje eu fiquei realmente entusiasmado ao escutar aqui alguns dos que me antecederam porque descobri o seguinte: o pessoal aprendeu a fazer realmente estabilidade fiscal rapidamente."