Título: 'Estarei lá', diz Kirchner sobre cúpula
Autor: Ariel Palacios e Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Nacional, p. A7

"Óbvio. Estarei lá". Desta forma, sem maiores detalhes, o presidente Néstor Kirchner, confirmou, pela primeira vez, de forma pública, que estará presente à reunião de cúpula de chefes de Estado de países sul-americanos e árabes, nos próximos dias 10 e 11, em Brasília. Kirchner fez a declaração em comício na cidade de Cipolletti, na Patagônia. A confirmação da viagem do presidente argentino ocorre em clima de tensão política entre os dois países, provocado pela irritação do governo Kirchner com o crescente protagonismo do governo Lula na região.

Nas últimas semanas, a Casa Rosada e o Planalto divergiram sobre a criação de vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, a presidência da OMC e a saída para a crise política equatoriana. Nos últimos dez dias, o governo argentino emitiu mensagens contraditórias sobre a presença de Kirchner para a cúpula sul-americana com os árabes. Segunda-feira, a Casa Rosada disse que, embora a viagem estivesse na agenda, "não estava confirmada".

A novela sobre a ida de Kirchner à cúpula na qual o anfitrião Lula será a estrela ainda não está concluída. Levando em conta que em diversas ocasiões Kirchner prometeu comparecer a encontros internacionais, para depois faltar, a cúpula da próxima semana poderia contemplar três cenários:

Ausente: Kirchner não vai e repetirá sua atitude com a cúpula do Grupo do Rio e na reunião de presidentes sul-americanos em Cuzco;

Cavalo de Tróia: Kirchner chega atrasado à cúpula em Brasília, fica até o final (como fez na reunião de presidentes do Mercosul, em Puerto Iguazú), e tumultua o encontro, anunciando restrição contra produtos brasileiros ou disparando alfinetadas contra o "protagonismo" de Lula;

Saída apressada: Kirchner vai, mas parte antes do final para evitar perguntas constrangedoras, como fez na reunião de cúpula do Mercosul.

PANOS QUENTES

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, procurou ontem reduzir as tensões entre seu país e o Brasil. Em Paris, disse que é preciso acalmar os dois lados e não aceitar a versão de que os principais membros do Mercosul estão em conflito. "Que pelea, que nada (que briga, que nada)", insistiu.

Lavagna informou que o contencioso será debatido em nível técnico em Buenos Aires, segunda-feira.