Título: Deputado acusado de extorsão contra Cachoeira é cassado
Autor: Denise Madueño e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Nacional, p. A10

Em votação secreta, a Câmara cassou ontem o mandato do deputado André Luiz (sem partido-RJ). Foram 311 votos favoráveis à perda de mandato, 104 contra, 33 abstenções e 3 votos em branco. Acusado de tentar extorquir R$ 4 milhões do empresário de jogos Carlos Cachoeira, André Luiz ficará inelegível até 2015. A cassação ganhou força durante o dia de ontem e faz parte de um movimento dos parlamentares para tentar resgatar a credibilidade da Câmara. "A questão era: ou a Câmara ou ele", resumiu o tucano Jutahy Júnior (BA). "Não havia alternativa. Ou o cassávamos ou a população cassaria nossos mandatos", disse o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). Na tribuna, José Eduardo Cardozo (PT-SP) fez um apelo: "Se prevalecer o espírito de corpo estará em cheque a credibilidade do Parlamento e do mandato de cada um de nós." Quando a contagem atingiu os 257 votos necessários para a cassação, o plenário comemorou com aplausos.

Na tentativa de manter seu mandato, André Luiz apelou para a intimidação e ameaças. Ele começou o dia dizendo, em entrevista, que existia uma gravação em que deputados estariam tratando de dinheiro com Cachoeira. Insinuou ainda que deputados da Comissão de Defesa do Consumidor, que já integrou, estariam envolvidos em questões de extorsão. Não citou nomes em nenhum dos casos.

"Se ele tem isso, deve expor à sociedade. Ninguém pode encobrir criminosos", reagiu o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). "Se têm outros deputados na posição dele, que exponha os nomes e a Câmara tomará as providências necessárias."

O relator do pedido de cassação no Conselho de Ética, Gustavo Fruet (PSDB-PR), contou que foi procurado por Carlos Rodrigues (PL-RJ), que disse temer reação violenta de André Luiz. E acrescentou que, caso André Luiz fosse cassado, o mataria. "Não sou bicho-papão. Sou homem de bem", respondeu André Luiz, quando questionado. Apesar das ameaças, Rodrigues participou da votação.

Nenhum deputado se inscreveu na sessão para discursar a favor de André Luiz. Sua defesa foi feita por ele e um de seus advogados, Michel Saliba. "Eu saí prejudicado. Fui cerceado no direito de defesa", reclamou André Luiz. Da tribuna, afirmou que era um homem "honesto, sério e inocente" e pediu o voto de confiança de todos.

A preocupação da maioria dos deputados durante todo o dia era com o desgaste da Câmara. Era o argumento usado por quem pedia votos pela cassação. Nos últimos meses, a imagem da Casa foi abalada com o aumento das verbas de gabinete, a defesa do nepotismo feita por Severino e, anteontem, com o arquivamento do processo contra o deputado Pedro Corrêa (PP-PE) por suposto envolvimento com a máfia dos combustíveis.

De manhã, André Luiz procurou apoio espiritual. Ele participou de culto evangélico na Câmara, em que a luta do bem contra o mal foi o tema da bênção. "Temos de nos unir contra os espíritos demoníacos que envolvem esta Casa com a intenção de fazer o mal e derrubar o próximo", afirmou Philemon Rodrigues (PTB-PB), responsável pela pregação. Cerca de 25 deputados participaram do culto. Walter Pinheiro (PT-BA) disse que o fato de André Luiz ter participado não significa apoio a ele. "O culto acontece todas as quartas-feiras. Qualquer um pode participar. Qualquer ladrão pode ir."