Título: Blair deve vencer hoje, mas...
Autor: Dan Balz
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Internacional, p. A12

Tony Blair ainda é o mais hábil ator político britânico. Mas sua campanha para a eleição de hoje e para aquilo que, espera ele, será um histórico terceiro mandato parece uma marcha triste, em claro contraste com a radiante esperança de sua primeira eleição, em 1997. A efervescência e o senso de oportunidade que, em maio de 1997, saudaram o primeiro governo trabalhista em 18 anos foram substituídos por uma visão muito mais crítica de Blair. Nos meses posteriores à primeira eleição de Blair, a Grã-Bretanha vibrava de expectativa, e suas ambições iam muito além do objetivo de reformar seu partido para conduzi-lo de volta ao poder. Ele prometeu um governo radical que reformularia o Estado de bem-estar social e integraria a Grã-Bretanha à Europa de um modo mais completo.

Apesar de toda a confiança em sua habilidade de guiar as discussões com a oposição no fim da campanha, Blair dá a sensação de alguém numa corrida consigo mesmo sobre o próprio legado, decidido a deixar uma marca duradoura em seu país antes que seu capital político e seu prazo, agora limitado, se esgotem.

Blair pede aos eleitores que deixem para trás a revolta sobre o Iraque, sua decisão política mais danosa dos últimos oito anos, e olhem para a agenda doméstica inacabada de seus dois primeiros mandatos. Uma crítica diz que os dois mandatos de Blair marcam o triunfo do thatcherismo. Blair abraçou muitas das reformas de Margaret Thatcher para ajudar os trabalhistas a vencer a eleição de 1997. Mas seu governo não se resume à imitação de Thatcher, diz Tony Travers, cientista político.

Blair e o ministro das Finanças, Gordon Brown, argumenta ele, puseram a Grã-Bretanha num curso que a deixa entre os EUA, à direita, e o restante da Europa, à esquerda. Eles fizeram isso com políticas determinadas pelo mercado, similares àquelas dos EUA, mas - ao contrário de Thatcher - buscaram meios modestos de redistribuir riqueza e adotaram uma rede de previdência social mais próxima do modelo europeu. "É uma versão mais progressista do thatcherismo", disse Travers.