Título: Tratamento evita que mães transmitam aids aos bebês
Autor: Clarissa Thomé
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Vida&, p. A16

X., de 22 anos, é mãe de gêmeas de pouco mais de um mês de vida. Ela não fez o pré-natal e somente na hora do parto soube que era soropositiva. Entrou em desespero. "Engravidei porque a camisinha estourou, mas estava alegre em ter duas meninas. Quando fui avisada de que tinha HIV, não sabia o que fazer", lembra. Hoje está aliviada. Camile e Caroline não tem o HIV. As meninas estão entre as 35 crianças que já completaram um estudo para a prevenção da transmissão do HIV de mãe para filho no Hospital Geral de Nova Iguaçu, na Posse, Baixada Fluminense. Somente um bebê foi confirmado como soropositivo. Este é o primeiro estudo em que a mãe não sabe que tem HIV e não fez tratamento durante a gravidez.

A pesquisa, coordenada pelo National Institutes of Health (NIH), é feita em 14 hospitais de cinco países - metade deles no Brasil. Dos 211 bebês que participam dos testes, 66 estão sendo acompanhados na Posse.

"O Hospital de Nova Iguaçu foi o que mais incluiu crianças no mundo. Não é que as mulheres sejam soropositivas em maior número, mas estamos recrutando melhor", acredita o coordenador do trabalho no hospital, José Eurico Ribeiro.

Desde que começou o estudo, há um ano, nove maternidades da Baixada e o Hospital Geral de Bonsucesso passaram a testar as mulheres na hora do parto. Elas são convidadas a tratar as crianças em Nova Iguaçu - hoje são 64 mulheres e 66 bebês.

Cerca de 60% das mães não fizeram pré-natal. Apenas cinco souberam que eram soropositivas no último trimestre da gravidez, mas não foram submetidas a nenhum tipo de tratamento. "Algumas tinham resultado negativo para HIV em teste feito no início da gravidez. Elas se tornaram soropositivas durante a gestação ou continuaram tendo contato com o parceiro e foram contaminadas. Isso reforça a necessidade do teste também no último trimestre da gravidez", defende Ribeiro.

TRATAMENTO

No tratamento convencional, os bebês de mães com HIV recebem xarope de AZT a cada oito horas. A pesquisa testa três esquemas: dose maior do xarope de AZT a cada 12 horas, AZT com nevirapina e AZT com lamivudina e nelfinavir. "Queremos saber qual método aumenta a eficácia de proteção do recém-nascido", explicou o chefe do serviço de DST/Aids do Hospital de Nova Iguaçu, José Henrique Pilotto.

O estudo está longe de terminar. O protocolo da pesquisa prevê que 1.786 crianças em todo o mundo recebam os medicamentos por seis semanas e sejam acompanhadas durante seis meses.

"Essa pesquisa pode ser a última esperança para muitas mães", acredita B., que tem HIV desde 1998. Ela tem dois filhos, de 3 e 5 anos, que não são soropositivos. "As crianças não têm de pagar pelo que não têm culpa", acredita.