Título: IPC é maior para abril desde 1996
Autor: Francisco Carlos de Assis
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Economia, p. B5

A inflação do município de São Paulo, medida pelo Índice de Preços do Consumidor (IPC), apurado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP, foi de 0,83% em abril. O porcentual ficou abaixo do registrado na terceira prévia do mês, quando o índice foi de 0,98%, e acima da inflação de março, que foi de 0,79%. Foi também o maior índice desde agosto de 2004, quando o reajuste médio dos preços foi de 0,99%, e o maior para o mês de abril desde 1996. O IPC ficou dentro das expectativas dos 21 analistas ouvidos pelo Estado, que esperavam entre 0,66% e 0,94%. Saúde liderou os aumentos do mês, avançando 1,79%, acima do registrado tanto na terceira prévia (1,43%) quanto no mês anterior (0,57%). O grupo Transportes teve aumento de 1,32%, abaixo do apurado na pesquisa divulgada semana passada (2,35%) e também de março, quando houve alta de 4,17%. Alimentação teve o mesmo porcentual de alta da terceira quadrissemana: 1,55%. Em abril, porém, a variação foi muito maior do que a do mês anterior, quando esse item subiu 0,29%.

Se há algo de bom nesta inflação, segundo o coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti, é que ela decorre de reajustes principalmente de alimentos, que pelo grau elevado de volatilidade acabam devolvendo mais rapidamente quase tudo o que aumentou.

O grupo Alimentação foi citado por todos os 21 analistas consultados ontem como o principal fator de alta da inflação de abril. Voltou a apresentar a mesma variação da terceira quadrissemana (1,55%), mas fechou 1,26 ponto porcentual acima da variação de 0,29% de março.

Os alimentos industrializados fecharam o mês passado mostrando aumento médio de 1,52% ante 0,23% em março. Para Picchetti, este é um segmento que se encontra em franco processo de recuperação de perdas, já que nos últimos 12 meses seus preços foram ajustados abaixo da inflação. No caso dos semi-elaborados, o aumento de 1,55% reflete em grande parte a quebra de safra em decorrência da longa estiagem no Sul do País. Além disso, este segmento tem sido vítima dos aumentos do leite e seus derivados, que têm respondido ao forte volume de exportações.

PREVISÕES

Os alimentos in natura, principalmente, com alta média de 2,70% em abril ante uma taxa de 1,02% em março, têm sido motivo de desentendimento entre os especialistas em inflação. São produtos sujeitos a intempéries, mas devolvem rapidamente suas altas ou quedas expressivas. Mas este ano - e isso foi objeto de estudo do coordenador da Fipe - estão demorando muito para começar a cair.

Picchetti previu uma taxa de inflação de 0,45% para o IPC deste mês. Esta é a mesma taxa com a qual ele iniciou suas expectativas no fim de março para o IPC de abril. De acordo com Picchetti, dos 0,83% de inflação do mês passado, 0,35 ponto porcentual veio do grupo Alimentação. "Se não fossem os alimentos, o IPC de abril teria fechado próximo da minha previsão inicial, de 0,45%."

A taxa de 0,45%, no acumulado de 12 meses, substituirá uma variação de 0,57% verificada em maio do ano passado. Como a inflação de junho, geralmente, fica próxima da apurada em maio, a substituição será feita por um índice de 0,92% em junho de 2004. Isso, de acordo com o coordenador, deverá contribuir para que a inflação feche dentro do esperado pela Fipe.

Picchetti acredita que a inflação cairá quase pela metade neste mês porque os alimentos, especialmente os in natura, já começam a mostrar tendência de reversão da alta dos últimos meses.

O coordenador da Fipe manteve também a sua projeção de inflação na cidade de São Paulo para 2005 entre 5% e 5,5%. Segundo ele, a inflação acumulada nos últimos 12 meses até abril está em 7,94%, mas, a partir de maio, a contagem anualizada do custo de vida passará a substituir taxas maiores na ponta de 2004 por taxas menores deste ano.

O setor que mais deverá contribuir para o arrefecimento do custo de vida no fim deste ano será o de Alimentação, que contará com a entrada de nova safra e anulará os reflexos do minichoque agrícola sobre a inflação no início deste ano.