Título: Expectativa de inflação só cresce
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Economia, p. B5

Mesmo depois de oito meses de juros em alta, as expectativas para a inflação em 2005 não param de subir. O Relatório Focus do Banco Central (BC) mostra que, desde o início do ano, os agentes financeiros revisaram a previsão de IPCA em 2005 de 5,67% para 6,28%. Enquanto isso, as estimativas para o crescimento do PIB no ano ficaram estagnadas - 3,60% em janeiro e 3,67% em 29 de abril. A percepção dos economistas é que a política monetária é menos eficiente para combater os atuais focos de inflação: alta das tarifas, alta das commodities e choque de preços agrícolas por causa da seca do Sul do País. Segundo Mário Mesquita, economista-chefe do banco ABN Amro, a política monetária está "sobrecarregada", porque os juros têm efeito indireto sobre a alta das commodities, as tarifas e o choque agrícola. "Para atingir a meta, precisaremos de uma política monetária mais apertada e ter menos crescimento - ou optar por uma meta menos ambiciosa."

Cerca de 30% dos preços que compõem o IPCA são tarifas administradas, que não reagem, de forma primária, à elevação dos juros. Os outros 70% são preços livres. Na opinião de Mesquita, se a política monetária não estivesse apertada, as expectativas de inflação estariam mais altas. Já sobre a atividade econômica, diz, os juros altos estão surtindo efeito.

A inflação nos 12 meses até abril mostra os efeitos da política monetária sobre os diferentes preços. O IPCA está acumulado em 7,93% até abril. Mas os preços dos chamados produtos comercializáveis, afetados pela política monetária e pela valorização cambial, subiram apenas 5,6%, enquanto os não-comercializáveis (serviços, educação, saúde) subiram 6,85%; as tarifas, 12,3%.

Paulo Hermanny, economista sênior da Itaú Corretora, acredita na eficácia da política monetária para segurar a inflação. Mas, diz, a atual conjuntura econômica pode impor uma defasagem maior entre a elevação dos juros e os efeitos sobre os preços.