Título: Kroll tenta refazer imagem no País
Autor: Cleide Silva, Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Economia, p. B8

A Kroll, uma das mais conceituadas empresas de investigação nos Estados Unidos, inicia uma ofensiva para tentar recuperar a imagem de sua subsidiária brasileira, envolvida no escândalo do caso Brasil Telecom. A difícil missão inclui reconquistar contratos com o governo brasileiro, suspensos após as denúncias de grampo telefônico envolvendo autoridades da administração federal. O governo já respondeu por 10% do faturamento da empresa no País, mas atualmente não mantém nenhum contrato com a Kroll, acusada de espionagem industrial por investigar executivos da Telecom Italia a mando do Banco Opportunity, controlado por Daniel Dantas.

O diretor mundial de Serviços de Consultoria da empresa, Andrés Antonius González, esteve esta semana no Brasil para tentar reverter os efeitos do escândalo, que incluiu a prisão de cinco funcionários da empresa por nove dias pela Polícia Federal."Vai ser difícil, mas não vamos deixar de buscar oportunidades", disse.

A vinda do executivo acorreu uma semana após a Telecom Italia pagar R$ 1,1 bilhão ao banqueiro Daniel Dantas pela participação do Opportunity na operadora de telefonia fixa, acabando com o conflito entre as empresas. E, para a Kroll, um grande contrato a menos.

O executivo negou ações ilícitas no processo por parte da subsidiária, apesar dos resultados desastrosos. Ele não escondeu a decepção pela forma com que o caso foi conduzido pela PF. "Creio que poderia ter sido diferente", disse, sem detalhar.

Para González, o fato de o Opportunity ter fechado um acordo com a Telecom Italia "é uma demonstração de que a investigação serviu para alguma coisa". A empresa espera o fim do inquérito que apura seu envolvimento no caso para "poder comprovar que não fez nada ilícito."

Perguntado se a empresa teve acesso a informações da Receita Federal para repassar a seu cliente, o diretor da Kroll preferiu não responder diretamente. "Não somos James Bond, nem estamos grudados nas paredes; o que fazemos é um trabalho igual ao jornalístico, conversamos com várias pessoas e montamos um quebra-cabeças", explicou González. "Nunca participamos de atividades de espionagem de altos funcionários públicos e não utilizamos grampo telefônico." Ele reclamou da inexistência no Brasil de uma lei que regulamente a atuação das empresas de investigação, o que teria evitado vários problemas no processo.

Com dez anos no Brasil, a Kroll tem cerca de 50 projetos em andamento no País, 80% envolvendo empresas de capital nacional. Desses projetos, 18 foram conquistados desde o fim de março. Nos 32 anos de existência da empresa nos EUA, a prisão de funcionários só ocorreu aqui. Além do caso Opportunity, um funcionário do grupo ficou detido algumas horas em um aeroporto na época das investigações envolvendo o então presidente Fernando Collor de Mello e seu tesoureiro Paulo Cesar Farias.