Título: Risco da GM e Ford abala mercados
Autor: André Palhano e Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Economia, p. B4

O rebaixamento da classificação de risco da GM e da Ford causou volatilidade no mercado ontem, levando a Bovespa a fechar em queda de 0,15%. A Standard & Poor's anunciou que estava rebaixando o rating da GM e da Ford de "grau de investimento" para "junk" (considerado arriscado). Com isso, vai ficar mais caro para essas empresas captarem recursos. A Bolsa de Nova York reagiu à notícia e o índice Dow Jones fechou em queda de 0,43%. As ações da GM caíram 5,91% e as da Ford recuaram 4,53%. No Brasil, o anúncio trouxe preocupação. Com o rebaixamento para junk bond, os US$ 291 bilhões em títulos da GM devem disputar o filão dos clientes que investiam nos papéis sem grau de investimento, como os do Brasil. Os US$ 161,3 bilhões de títulos da Ford também vão entrar na disputa. Alguns fundos estrangeiros só podem investir em papéis que tenham classificação de grau de investimento ou superior. Com o rebaixamento da Ford e GM, as empresas passam a competir com o Brasil e outros emergentes pelos recursos de investidores em papéis de alto risco.

Mas os efeitos do rebaixamento foram brandos porque a maioria dos analistas não acha que os títulos brasileiros serão muito afetados. Os bônus BR40, os mais líquidos do Brasil, caíram quando o rebaixamento foi anunciado, mas logo se recuperaram e encerraram o dia praticamente empatados, em baixa de 0,43%. O C-Bond era negociado a 101,188% do valor de face, em alta de 0,06%. E o risco país fechou em 433 pontos, alta de 1,41%.

Passado o impacto inicial do rebaixamento no rating das empresas americanas, a percepção dos analistas é de que o efeito sobre os papéis da dívida externa dos países emergentes será restrito. Pelo menos no curto prazo. "O impacto foi pequeno, porque já se esperava que as empresas fossem rebaixadas e o mercado já tinha precificado", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra. "E os títulos corporativos e de países emergentes não disputam exatamente o mesmo perfil de investidor."

Esse mercado corporativo de "alto risco", que já vinha sofrendo os efeitos relacionados aos sinais de desaceleração da economia americana, é que tende a ser, segundo os gestores, mais afetado com a mudança dos ratings.

De qualquer forma, o clima ainda é de cautela nos mercados, até pelos valores colossais das dívidas envolvidas no rebaixamento - maiores, por exemplo, do que toda a dívida externa brasileira.

Na classificação da Standard & Poor's, a Ford passou de BBB- (grau de investimento) para BB+ (caiu um degrau) e a GM passou de BBB- para BB (queda de dois degraus). A classificação do Brasil é BB- (três degraus abaixo do grau de investimento, um abaixo da GM).