Título: Câmbio já pesa na indústria, diz CNI
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Economia, p. B4

BRASÍLIA - A queda do dólar e o desaquecimento da economia brasileira em razão da alta dos juros reduziram em 1,12% as vendas da indústria em março, na comparação com fevereiro, segundo os indicadores do primeiro trimestre do ano divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O resultado já desconta os efeitos sazonais. O economista Flávio Castelo Branco, da CNI, diz que os dados confirmam desaceleração da atividade industrial neste primeiro trimestre do ano ante o último trimestre de 2004. Embora as exportações estejam batendo recordes, afirma, a receita em reais obtida por alguns setores cai por causa da baixa cotação do dólar.

Nas grandes empresas, em média, 20% da receita vêm de exportações. O problema é maior para os fabricantes de bens de consumo de massa, principalmente calçados e produtos têxteis. Como a China não importa esse tipo de produto, esses mercados não têm preços externos que compensem as perdas na conversão dos dólares em reais.

Essa perda de rentabilidade pode dificultar o aumento dos investimentos, diz o economista, lembrando que projetos com rentabilidade garantida com o dólar próximo a R$ 2,90 deixaram de ser lucrativos com a cotação próxima a R$ 2,50. Desta forma, muitos investidores estariam optando por engavetar os planos de expansão ou de modernização.

O economista Paulo Mol, também da CNI, explica que esse efeito é danoso à indústria, pois o uso da capacidade instalada está muito alto - 82,6% desde janeiro. O índice chegou a 83,4% em dezembro passado, mas recuou um pouco diante da maturação de investimentos dos dois últimos anos e em decorrência do desaquecimento da economia. Mesmo assim, é um nível elevado para uma eventual recuperação da atividade, alerta Mol.

A redução da atividade não afetou ainda o otimismo dos empresários em relação a 2005. O nível de emprego continua subindo na indústria, embora em ritmo menor. "Se a empresa continua a contratar, isso significa que a perspectiva dos empresários é otimista", comenta Mol. A desaceleração, porém, pode ser um alerta de retração no emprego mais à frente.

A mesma preocupação ocorre com os dados das horas trabalhadas na produção, considerado pela CNI o indicador mais vinculado à produção industrial. No terceiro trimestre de 2004 registrou-se crescimento de 3% sobre o trimestre anterior. No último trimestre do ano passado o crescimento foi de 1,8% e de janeiro a março deste ano, as horas trabalhadas ficaram apenas 1,4% acima do dado referente ao fim de 2004.

A massa salarial cresce há sete trimestres consecutivos, fato inédito no levantamento da CNI, iniciado em 1992. Em março, subiu 2,03% ante fevereiro (dessazonalizado) e 9,53% em comparação com março de 2004. Neste ano, a soma dos salários já aumentou 9,12% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.