Título: Credores do Banco Santos processam o BC
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Economia, p. B8

Sem esperanças de recuperar o que perdeu nas aplicações do Banco Santos, parte dos cerca de 700 investidores da instituição, a maioria empresas, agora se prepara para travar uma queda de braço na Justiça com o Banco Central. O argumento desses credores é que o BC poderia ter intervindo antes na instituição, uma vez que desde 2001 tinha informações de que o banco de Edemar Cid Ferreira passava por problemas. Segundo um representante de credores do banco, vários deles já entraram ações judiciais contra o BC exigindo ressarcimento dos prejuízos. A liquidação extra-judicial do Banco Santos foi decretada quarta-feira pelo BC depois de seis meses de intervenção. O passivo a descoberto do banco chegou a R$ 2,2 bilhões. No momento da intervenção o BC estimava que o rombo nas contas do banco fosse da ordem de R$ 700 milhões. Desde o início do ano, os credores tinham poucas esperanças de receber o que haviam investido no banco de Edemar, principalmente quando se descobriu que os ativos do Santos iam pouco além dos R$ 750 milhões. Durante o processo de intervenção, apurou-se que a quebra do banco é decorrência de fraudes e má gestão.

Desde dezembro, o Ministério Público Federal em São Paulo apura as irregularidades cometidas na administração do Banco Santos. A mais comum delas era o chamado empréstimo "bate e volta", em que empresas - muitas delas com problemas de caixa - tomavam empréstimos do banco e usavam parte do dinheiro para investimentos no próprio banco ou em empresas não financeiras do grupo. Estima-se que esse tipo de operação tenha movimentado R$ 1,3 bilhão, sem contar R$ 450 milhões usados em operações fraudulentas com Cédulas de Produtor Rural (CPR).

Três meses depois, foi a vez da Polícia Federal entrar nas investigações e abrir um inquérito para apurar as irregularidades no banco. A PF entrou no caso a pedido do Ministério Público, em princípio para ajudar a inventariar as obras e bens de Edemar seqüestrados pela Justiça Federal em março. O inquérito foi aberto na Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e a previsão para o término das investigações é de 120 dias. Na busca à casa do banqueiro foram apreendidos R$ 70 mil, US$ 3,4 mil, uma barra de ouro e 15 computadores

A apuração das irregularidades no Banco Santos foi inovadora em alguns pontos. Pela primeira vez, os procuradores de Justiça e peritos da PF acompanharam junto com técnicos do BC as operações realizadas no banco. Eles chegaram a uma rede colossal de empresas interligadas onde se operava as transações. Apesar do trabalho para se desvendar a rede ser monstruoso, os responsáveis pela investigação consideram o assunto bem encaminhado. Apesar do sistema ser sofisticado e complexo, quase todos os dados estavam arquivados dentro dos computadores do banco. Foram essas informações que levaram o Ministério Público a pedir na Justiça o bloqueio dos bens e das obras de arte de Edemar.