Título: Zylbersztajn no conselho da Varig
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Economia, p. B20

O ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztajn, será o próximo presidente do Conselho de Administração da Varig. Convidado pela Fundação Ruben Berta, controladora da Varig, Zylbersztajn substituirá Joaquim Santos, funcionário com 50 anos de casa, que renunciou ao cargo no fim de abril. A troca de cadeiras no conselho de administração da Varig incluirá outros dois ou três conselheiros e será anunciada oficialmente amanhã, durante reunião do conselho em Porto Alegre.

Ontem, a FRBpar, braço financeiro da fundação, distribuiu uma circular para os funcionários do grupo em que afirma que a partir de segunda-feira terá início 'o processo de soerguimento de nossa principal empresa', a Varig. Diz ainda o texto: 'As próximas horas serão difíceis, com informações plantadas por nossos inimigos de plantão, objetivando desestabilizar nossos funcionários e desacreditar as providências em curso de responsabilidade inalienável do controlador.' A paciência do governo em relação à crise da Varig está chegando ao fim. Esta semana, o vicepresidente e ministro da Defesa, José Alencar, perdeu a paciência em conversa com o presidente da Varig, Carlos Luiz Martins, por conta do não-pagamento de tarifas aeroportuárias à Infraero.

Com o fluxo de caixa apertado, a Varig optou, na virada deste mês, por pagar salários em detrimento da Infraero. A estatal, por sua vez, ameaçou impedir a decolagem dos aviões da Varig caso não fosse feito o pagamento. A situação foi regularizada ontem. Durante a conversa com Alencar, o presidente da Varig teria ainda ameaçado deixar o cargo, caso não haja uma definição da FRB sobre o novo investidor até sábado. Depois do mal-estar com Martins, Alencar ligou para o presidente da FRB, Ernesto Zanata, para cobrar uma definição urgente.

Ontem no Rio, Martins confirmou que Alencar pediu 'urgência', mas negou que tenha havido ultimato ou ameaça de represália por parte da Infraero e da BR Distribuidora. 'Não existe ultimato, mas uma urgência por uma solução', afirmou, depois de participar de evento na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Martins chegou a comentar que o governo fala em resolver o problema do setor, mas não faz nada.

Durante sua apresentação no evento sobre a Lei de Recuperação das Empresas, Martins afirmou que 'a Varig, de repente, virou a Geni brasileira, todo mundo joga pedra'.

Como demonstração de que a empresa não é mal gerida, ele apresentou dados sobre a performance operacional da empresa, como o resultado da atividade (receitas menos despesas, sem encargos financeiros) de R$ 453 milhões no ano passado, 40% acima de 2003. O resultado líquido foi de R$ 87 milhões negativos.

O executivo também indicou que o patrimônio negativo, de R$ 6,5 bilhões, ficaria positivo em R$ 126 milhões, caso fossem levados em conta créditos que a empresa alega ter a receber em ações na Justiça, como os R$ 3 bilhões estimados para efeito de recomposição tarifária. 'A Varig só quer ter condições de pagar uma dívida contraída no passado. O que a Varig menos tem é má gestão, porque ainda está viva, apesar de seu passivo, num ambiente hostil e competitivo como este.'