Título: Brasil quer João Sayad no comando do BID
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Nacional, p. A8

WASHINGTON - A disputa pela sucessão do Enrique Iglesias na presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sediado em Washington, será o próximo teste da liderança regional do Brasil, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cessa de proclamar, mas que o governo tem enfrentado problemas para exercer. Segundo fontes próximas a Iglesias, nos primeiros dias do mês que vem, o ex-chanceler uruguaio, de 73 anos, comunicará oficialmente sua decisão de deixar o cargo, para assumir o comando da recém-criada Secretaria-Geral Permanente das Cúpulas Ibero-Americanas, em Madri. Espanhol das Asturias naturalizado uruguaio, Iglesias é uma das raras unanimidades entre estadistas do continente, admirado por suas qualidades pessoais e respeitado como analista das realidades da região. Ele foi, por exemplo, uma das pessoas que a secretaria de Estado Condoleezza Rice ouviu com atenção ao preparar-se para sua bem-sucedida recente viagem inaugural à América do Sul. Iglesias preside o BID desde abril de 1988. Reeleito três vezes, seu atual mandato termina em março de 2008.

O anúncio de sua renúncia poderá ocorrer já em 1.º de junho, quando a diretoria executiva do BID terá sua primeira reunião regular após encontro de chanceleres dos países ibero-americanos que formalizará o convite a Iglesias, no dia 28, na Espanha.

O governo brasileiro, que detém 10,7% do capital da instituição, já indicou a intenção de apresentar a candidatura de João Sayad, de 59 anos, economista formado pela Universidade Yale, ex-professor da Universidade de São Paulo e ex-ministro do Planejamento, que ocupa hoje uma das duas vice-presidências do BID.

Outros países também devem apresentar nomes. A Colômbia, na verdade, já o fez. Num gesto que causou consternação e reações negativas, especialmente do Chile, o governo de Bogotá mandou cartas às chancelarias dos países latino-americanos pedindo apoio à candidatura de seu embaixador em Washington, Luiz Alberto Moreno, antes mesmo de o cargo estar disponível.

Também citado é o boliviano Enrique Garcia, ex-alto funcionário do BID, ex-ministro em seu país e atual presidente da Confederação Andina de Fomento.

No terreno das especulações, são mencionados o ex-primeiro-ministro do Peru Roberto Danino, que ocupa hoje uma das vice-presidências do Banco Mundial, e o chanceler do México, Luiz Ernesto Derbez, que perdeu recente disputa pela secretaria-geral da Organização dos Estados Americanos para o ministro do interior do Chile, José Miguel Insulza.

Não se deve descartar uma candidatura da Argentina, cujas chances são consideradas nulas, mas nos últimos dias passou a circular o nome de seu embaixador em Washington, José Octavio Bordon, como possível postulante.

"Há um sentimento generalizado de que chegou a vez de o Brasil presidir o BID", disse ao Estado o presidente do Diálogo Interamericano, Peter Hakim. "A escolha de Sayad depende, a meu ver, do empenho com que o Brasil defender sua candidatara", acrescentou ele. "Ao mesmo tempo, é improvável que candidatos do Chile, do México e do Uruguai tenham sucesso, a menos que apresentem nomes excepcionais, pois os três países já tiveram a presidência do banco por longos períodos", afirmou Hakim.