Título: Ascensão de Brown deve fortalecer relação com Brasil
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Internacional, p. A14

LONDRES - A vitória de Tony Blair não deverá provocar alterações nas relações entre a Grã-Bretanha e o Brasil no curto prazo, mas abre a perspectiva de uma maior aproximação política bilateral nos próximos anos. O primeiro-ministro já deixou claro que essa seria sua última eleição, assumindo o compromisso de transferir a liderança do Partido Trabalhista e a chefia do governo até 2007. O atual ministro das Finanças, Gordon Brown, cujo apoio a Blair se mostrou fundamental durante a campanha, é o favorito para substituí-lo e deverá ter uma crescente poder daqui para frente. Brown - reeleito ontem para o Parlamento - vem se destacando nos esforços internacionais para o combate à miséria, queda das barreiras comerciais e no cumprimento das "Metas do Milênio", temas que dominam a agenda externa do governo brasileiro. Ele também é considerado um político mais à esquerda do que Blair e não esconde sua admiração pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, Brown ocupa a presidência do conselho dos governadores do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Qualquer que seja o vencedor, as relações bilaterais, que vivem hoje um momento excelente não serão afetadas", disse ao Estado o embaixador brasileiro em Londres, José Maurício Bustani. Ele lembrou que Blair, que ocupa a presidência do G-7, convidou o presidente Lula para o encontro do grupo na Escócia em julho. "Mas a perspectiva de Brown se tornar o primeiro-ministro poderá ser um bônus para as relações bilaterais, fortalecendo ainda mais a aproximação política entre os dois países." Segundo o embaixador, o ministro e sua equipe têm manifestado em reiteradas ocasições seu apoio à política econômica brasileira. Um recente estudo do Tesouro britânico colocou o Brasil entre "grandes potências emergentes" cujas economias terão um peso cada vez mais relevante no cenário mundial.

O professor da London School of Economics, Francisco Panizza, lembrou que a América Latina praticamente não foi mencionada durante a campanha. "Trata-se de uma região que não é prioridade da política externa britânica, embora os interesses econômicos sejam crescentes." Mas, segundo o acadêmico, uma ascensão de Brown à chefia do governo poderia ter um efeito positivo indireto nas relações políticas entre Brasília e Londres, caso o presidente Lula seja reeleito em 2006. Panizza observou que uma vitória de Blair poderá servir de alento para governos de centro-esquerda latino-americanos, como o do Brasil e Uruguai, que adotaram políticas econômicas ortodoxas. "O Novo Trabalhismo, com sua política pró-mercado e priorizando mais investimentos sociais, serviu como inspiração para o PT e outros partidos de esquerda da região e um sucesso eleitoral de Blair emite um sinal positivo", disse.

"A Grã-Bretanha é o país, entre os grandes da Europa, que mais vem obtendo sucesso em sua economia e a reeleição de Blair poderá mostrar que esse caminho é viável, até mesmo eleitoralmente."