Título: Blair se reelege, mas reduz bancada
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Internacional, p. A14

LONDRES - Tony Blair tornou-se ontem o primeiro líder trabalhista a ser eleito pela terceira vez consecutiva para a chefia do governo da Grã-Bretanha. Mas, se as pesquisas de boca-de-urna estiverem corretas, essa vitória histórica do primeiro-ministro, que completa hoje 52 anos, não abre espaço para muita comemoração e lança uma sombra de dúvida sobre a longevidade de seu comando do Partido Trabalhista e do país (ler ao lado). Segundo uma pesquisa das TVs BBC e ITV, que entrevistaram 19.800 eleitores em todo o país, os trabalhistas obterão 37% dos votos, seguidos dos conservadores (33%) e liberal-democratas (22%). Os trabalhistas passariam a ter 356 dos 646 assentos do Parlamento, os conservadores 209 e os liberal-democratas 53. Se essas previsões forem confirmadas, a folgada maioria de 161 assentos do partido de Blair no último Parlamento será drasticamente reduzida para 66. Os conservadores, em contrapartida, aumentariam sua bancada em 45 deputados. Os liberal-democratas, que para muitos britânicos poderiam ser a grande surpresa do pleito, perderiam dois assentos.

Resultados iniciais da apuração pareciam confirmar as projeções. Os trabalhistas conquistaram 313 das primeiras 511 cadeiras definidas, mas, na maioria dos casos, sua votação foi menor que em 2001. Derrotando por ampla margem o pai de um soldado morto no Iraque, Blair foi reeleito deputado pela localidade de Sedgefield, onde fez, de madrugada, suas primeiras declarações sobre o resultado das eleições. "Parece claro que a população queria mais um governo trabalhista, mas com maioria reduzida", afirmou. "Sei que o Iraque tem sido uma questão que divide este país, mas espero agora que possamos nos unir novamente e olhar para o futuro lá e aqui."

Analistas entrevistados pelas tevês e rádios foram unânimes em afirmar que a vitória trabalhista terá um gosto amargo. "Blair não é mais um mágico", disse o professor Tony King, da Universidade de Essex. "Esse resultado vai causar-lhe sério dano." Antes da eleição, já se previa que qualquer redução da maioria trabalhista para um nível abaixo de 100 deputados limitaria o êxito do partido. Uma surpreendente perda de quase 100 assentos poderá trazer turbulência dentro do Partido Trabalhista, que ainda não se recuperou da cisão interna causada pela guerra no Iraque. Os analistas avaliam que o resultado terá também o potencial de enfraquecer a liderança de Blair de tal forma que ele poderá até ser forçado a antecipar seu compromisso de abandonar o cargo antes da próxima eleição.

Há várias explicações possíveis para a queda do apoio a Blair. A decisão de participar da invasão do Iraque com os EUA ocupa o topo da lista, pois causou rejeição em boa parte da população. A votação pode refletir um eleitorado que ainda não vê melhor opção a Blair, mas quis deixar claro que está insatisfeito com o desempenho do líder. A ex-ministra trabalhista Claire Short, que renunciou por causa do conflito no Iraque, disse que seu partido poderia conviver "com muita alegria" com uma maioria de 66 deputados, mas observou: "Acho que todos concordam que teríamos tido uma performance diferente com um líder diferente."

Após a divulgação das pesquisas, os líderes trabalhistas procuraram ressaltar a vitória de seu partido e a terceira derrota consecutiva dos conservadores. "O importante é que conseguimos a maioria", disse o vice-primeiro-ministro, John Prescott. Para o coordenador da campanha trabalhista, Alan Milburn, "há um alerta saudável vindo das pesquisas de boca-de-urna".

O diretor da campanha dos conservadores, Linton Crosby, praticamente admitiu a derrota ao prever que seu o partido aumentará sua bancada entre 40 e 50 parlamentares. Mas, para os tories, a confirmação desses números será um enorme alívio, pois eles temiam ser superados pelos liberal-democratas. Resta saber agora se esse avanço dos conservadores será suficiente para dar uma sobrevida ao seu líder, Michael Howard.