Título: Europeus saem em defesa do Brasil
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Vida&, p. A17

O arquiconservador senador americano Sam Brownback, republicano de Kansas e um dos proponentes de duas leis federais de 2003 que condicionam a concessão de ajuda oficial dos EUA a programas de combate à aids no exterior a uma declaração de condenação da prostituição, reagiu à decisão brasileira de recusar uma ajuda de até US$ 40 milhões afirmando que, "obviamente, o Brasil tem o direito de agir da forma com escolher em relação a esse assunto". Em comentários publicados pelo Wall Street Journal, alguns dias depois de o Estado ter noticiado a decisão brasileira, o senador disse que espera que o dinheiro seja redirecionado para países cujas políticas de combate à aids estejam mais alinhadas com as da administração Bush e do Congresso, dominado pelos republicanos. "Estamos falando aqui sobre a promoção da prostituição, que a maioria da Câmara e do Senado acredita ser prejudicial às mulheres", afirmou Brownback.

Funcionários da burocracia americana procuraram minimizar o episódio. Eles tentaram disfarçar o óbvio constrangimento que a decisão brasileira causou em Washington, depois que ela expôs a estratégia oficial de usar programas de combate a uma epidemia global como veículo para vender conceitos morais e religiosos, de cunho fundamentalista, que são repudiados pela maioria dos americanos. Uma funcionária da Usaid disse ao jornal americano que "a situação (com o Brasil) está evoluindo e estamos no processo de determinar os próximos passos".

O porta-voz do departamento de Estado, Richard Boucher, deu uma longa explicação sobre as leis que obrigam o executivo a pedir declarações formais contra prostituição e tráfico sexual às nações que não têm políticas explícitas contras essas práticas. "Pedimos (as declarações) e não as obtivemos de organizações no Brasil."

Ativistas europeus saíram em defesa da posição adotada pelo Brasil de recusar o apoio financeiro. Um dos maiores grupos da Europa, o European Aids Treatment Group (EATG), acusa Washington de tentar promover sua agenda política por meio de contribuições financeiras. "O Brasil tem todo o nosso apoio", afirmou Mauro Guarinieri, diretor da EATG.

Para Guarinieri, a maneira adotada pelos EUA para condicionar seu dinheiro ao Brasil não é nova . "Os recursos e a ajuda são, na realidade, mecanismos de promoção de uma agenda política que nem sempre é baseada em fundamentos científicos, mas em ideologia."