Título: Indústria estaciona no 1.º trimestre
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2005, Economia, p. B1

A produção industrial voltou a crescer em março, 1,5% ante fevereiro, depois de dois recuos sucessivos. Mas o cenário é de estagnação: a produção nacional voltou ao nível de dezembro do ano passado. Em relação a março de 2004, o aumento foi de 1,7%. Esta taxa, o 19.º crescimento consecutivo nesta base de comparação, foi a menor desde novembro de 2003 (1,5%). Para o chefe da área de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, a produção ficou acomodada em um nível elevado. Na prática, o ritmo do crescimento desacelerou. "É nítido que a indústria parou de crescer. Ainda não podemos falar em recessão. Mas, normalmente, a parada é a ante-sala da recessão, razão pela qual há risco", diz o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida.

Os dados do crescimento industrial por trimestre dão bem a noção da perda de ritmo. De janeiro a março, a atividade da indústria acumula alta de 3,9% sobre o mesmo período em 2004. Mas os resultados dos quatro trimestres do ano passado, na comparação com 2003, foram bem superiores: 6,5%, 10%, 10,4% e 6,3%. Na média, a indústria avançou 8,3% no ano passado ante 2003. No primeiro trimestre de 2005, a produção foi apenas 0,2% superior à do trimestre anterior.

"Com os aumentos dos juros, os riscos de recessão estão ficando maiores do que o risco de inflação", comentou o professor da PUC/RJ José Márcio Camargo. Ele analisa que o baixo crescimento da produção é sinal de que "a política monetária já fez algum efeito na atividade". E explica que os juros elevados ainda não surtiram todo efeito. "Talvez fosse bom o Banco Central parar de aumentar (a Selic) neste momento, para evitar que tenha o risco de queda na produção".

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) deverá rever para baixo, em junho, a previsão de 4,6% do crescimento da produção industrial para o ano, por causa do desempenho no trimestre. O economista do Ipea, Estêvão Kopschitz, diz que a expansão industrial de janeiro a março ficou abaixo do projetado pelo instituto (7,6%), daí a revisão.

Para Sales, do IBGE, a alta de juros pode explicar parte da desaceleração industrial, principalmente com relação aos bens de capital e matérias-primas. Ele comentou, contudo, que pesquisas como as da FGV e da CNI mostram maior cautela, mas não indicam quadro negativo para os próximos meses. Os dados do IBGE mostram que a produção em março está 0,2% abaixo da de dezembro, o que representa estabilidade, segundo os técnicos do instituto.