Título: Lula diz que FHC causou prejuízo de US$ 16 bilhões
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2005, Nacional, p. A6

Na centenária estação de trens de Campinas, onde chegou festivamente às 16h10 a bordo de um vagão do Expresso Pantanal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ousado plano de reestruturação da Brasil Ferrovias, tomou emprestado o chapéu de maquinista do sr. Cabecinha - pernambucano de Surubim a quem saudou com um cabra da peste - e leu incisivo discurso apontando críticas diretas ao governo que o antecedeu. "É bom lembrar que de 1995 (primeiro ano do mandato de Fernando Henrique Cardoso, de quem não citou o nome) até o início de 2003, o Brasil registrou um déficit comercial de US$ 2 bilhões em todos esses anos", assinalou o presidente. Segundo Lula, esse déficit acarretou um prejuízo ao País de US$ 16,7 bilhões, em sete anos. Ao prometer "um novo Brasil" e discorrer sobre o que chamou de "um novo estado de espírito nacional, um estado de ânimo renovado que se apóia na convicção para vencer velhos gargalos" , ele previu enfaticamente: "Com o atual ritmo de exportações, temos condições de reverter o total desse prejuízo em pouco mais de cinco meses. Vamos recuperar, ampliar e modernizar esse sistema da malha ferroviária, de importância vital na logística nacional."

Ele disse que o Brasil perdeu "muitas oportunidades" e atribuiu ao passado recente a "lógica de cada um por si, que teve efeitos negativos em diferentes áreas, mas foi sobretudo corrosiva no setor social e na infra-estrutura".

"A solução do futuro não está numa volta ao passado", acentuou, ao defender as parcerias público-privadas e reiterar o perfil que quer para o banco social. "O BNDES não é e não será mais o braço financeiro de um modelo tecnocrata de desenvolvimento. Ele passou a ser parte relevante da construção de uma sociedade de compromissos compartilhados, que viabiliza novas formas de coordenação entre o setor público e o privado, indispensáveis aos grandes ciclos de progresso econômico e desenvolvimento humano. As parcerias público-privadas juntam-se a esse papel articulador e de desenvolvimento do BNDES, são fontes propulsoras dessa nova etapa na vida nacional."

No palanque, faziam companhia a Lula quatro de seus ministros, deputados, senadores e o governador Geraldo Alckmin. Na platéia, dezenas de prefeitos de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, convidados para a solenidade. O presidente voltou a falar da gestão que sucedeu ao enumerar empreendimentos que estão em curso, como as obras de dragagem em cinco portos, a restauração de 7 mil quilômetros de rodovias nos próximos 12 meses e a licitação de sete trechos de estradas federais. "Para reverter o apagão logístico, plantado nos anos 90, o governo também está trabalhando para recuperar a infra-estrutura existente", insistiu. "O Brasil, graças a Deus, voltou a crescer como não fazia há 10 anos."

Para ele, a reestruturação da Brasil Ferrovias "é um passo largo para recuperar o tempo perdido no sistema ferroviário nacional, e não foi pouco o que se perdeu". Lula reiterou: "Meus amigos, esse novo Brasil não cabe na infra-estrutura acanhada do passado e não se trata apenas de consultar cifras ou estatísticas. Estamos trocando a dependência financeira por uma entrada soberana e competitiva no mercado mundial. Jogamos ao longo da nossa história oportunidades extraordinárias. O Brasil não pode mais permitir que uma eleição, seja ela municipal ou nacional, atrapalhe o modelo de uma Nação soberana, desenvolvida, geradora de riquezas. Não temos o direito de nos tornarmos seres pequenos e jogarmos fora mais uma oportunidade".

O presidente atribuiu "negligência" a quem sucedeu. " Investimento na infra-estrutura foi negligenciado durante muito tempo, caracterizando um grave erro de calculo estratégico. Essa negligência traduzia também um péssimo estado de espírito, uma aceitação passiva da dependência e da estagnação do País, como se isso fizesse parte do nosso destino."