Título: Gil dá ultimato para Cultura receber verba
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2005, Nacional, p. A7

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, disse ontem que dá uma semana para o governo liberar pelo menos parte dos R$ 289,6 milhões destinados à sua pasta no orçamento. Se isso não acontecer, ele avisou que deixará o governo Lula, pois sem a liberação das verbas não há o que fazer na Cultura. Dos R$ 213 milhões do orçamento deste ano, R$ 125 milhões vão para despesas fixas e R$ 78,9 milhões para pagar dívidas já contraídas. Mais R$ 34 milhões estão comprometidos com o financiamentos de projetos específicos.

"Se chegar a uma situação de inviabilização você diz: não tem sentido ficar aqui", desabafou o ministro em entrevista ao Estado. "Você tem de considerar essas coisas. As atitudes extremas tem de estar permanentemente no horizonte do seu fazer e operar as coisas." Ele ressalvou que antes de anunciar sua saída, se tomar essa decisão, vai conversar com o presidente Lula. A seguir os principais trechos da entrevista:

Diante da dificuldade para conseguir verbas para seu ministério, o sr. acha chato ser ministro?

Se você acha que essas questões que afligem um ministro podem caracterizar chateação... Eu não acho que a chateação da vida possa provocar no ser humano a sensação de chateação. É assim em todo lugar. O filho tirou nota ruim e você tem de ir lá porque a professora chamou. Não tem de se chatear com a vida. Para mim, quanto mais indolor melhor. Não gosto de dor. Nem dores físicas, nem morais e psíquicas. Eu sou favorável à autoprodução mais intensa possível das endorfinas físicas e mentais. Eu gosto de me imunizar a essas coisas. Eu não me chateio.

Faz parte das funções de um ministro dizer: se não me derem essa verba não dá para tocar o ministério, e portanto eu estou fora?

Você tem de considerar, essas coisas têm de estar no horizonte. As atitudes extremas têm que estar no horizonte do seu fazer e operar as coisas. Numa situação de paralisia a que fica submetido o ministério, com as dificuldades financeiras, essas coisas tem de ser levadas em consideração. Se chegar a uma situação de inviabilização total, sem perspectivas de solução, você tem de dizer: não tem sentido ficar aqui. Tenho de ir para casa.

Está próximo da paralisia?

Eu já disse isso ao presidente. Ele reagiu no sentido de dizer que assim não é possível. Chamou o ministro da Casa Civil, o do Planejamento, da Fazenda. Isso está sendo visto. Ou seja, o presidente está compartilhando das aflições e das nossas preocupações, que são preocupações do governo dele.

Há prazo para resolver?

Tem. Nos próximos dias há repasse de recursos que precisam ser imediatos. Para o ano Brasil-França, onde há projetos que precisam ser definidos em 15 dias, outros em dois meses, mas é preciso que a garantia dos recursos seja feita agora. Agora é semana que vem.

Até a semana que vem o sr. espera uma resposta objetiva?

Eu e o presidente. Todos nós esperamos.