Título: Até rádio comunitária funciona na marcha
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2005, Nacional, p. A13

Montada em caminhão, emissora distrai e informa durante a caminhada, que é registrada por documentaristas

ANÁPOLIS - O sistema de comunicação entre os marchantes do MST é sofisticado e sem precedentes. O MST instalou uma rádio cedida pela Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraco) em um dos três caminhões de som que acompanham a marcha. O marchante leva um rádio portátil e sintoniza a emissora para ouvir músicas, manifestações de apoio, e as ordens de comando. Coordenadores e convidados usam a rádio para passar mensagens. A rádio tem 20 "repórteres populares" que entrevistam as pessoas. "Para eles é um aprendizado", diz a coordenadora Camila Bonassi. Os aparelhos fizeram parte do kit recebido pelos caminhantes. Foram distribuídas 10 mil mochilas contendo ainda caderno, caneta, cartilha da reforma agrária e livros de Karl Marx e Florestan Fernandes, entre outros. Uma equipe de jornalistas cuida do atendimento à imprensa. Cada dia é designado um porta-voz para entrevistas. Isso evitaria, segundo o MST, desencontro de informações. Jornalistas estrangeiros, inclusive uma equipe com seis documentaristas italianos, permanecem entre os sem-terra e dormem nos acampamentos.

Segundo Nicciolo Patriarca, integrante do grupo, os italianos admiram o MST. A mesma equipe já produziu um documentário sobre o trabalho escravo no Brasil. Além de integrantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que participa da organização, outros grupos religiosos acompanham a marcha. O mais numeroso é o Presença Solidária, da Conferência dos Religiosos do Brasil, também ligado à Igreja Católica. As 100 freiras vão acompanhar a marcha até Brasília.

"Visitamos os acampamentos e damos apoio às pessoas, levando a palavra de Deus", disse a Irmã Patrícia. "Nossa missão é estar onde o povo sofre", acrescentou a Irmã Bertina. Outras entidades, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Comitê das Fábricas Ocupadas de Santa Catarina, também juntaram seus militantes à marcha.

Durante as tardes, quando os sem-terra não marcham, são realizadas as atividades culturais e de formação. Os temas quase sempre envolvem questões ideológicas, resumidas em frase de lideranças nas marchas. Como esta, de Pedro Simas, dirigente e membro da Via Campesina. "Este é um momento de outras possibilidades, por isso colocamos nosso exército de trabalhadores nas ruas, para mudar a realidade que está aí e construir uma nova sociedade."