Título: Rota mais curta para as exportações
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2005, Economia, p. B4

A pavimentação da BR-163 representará um salto de competitividade para o produto brasileiro. Segundo estudo encomendado pelo Ministério dos Transportes ao Instituto Militar de Engenharia (IME), quando asfaltada, a nova rota poderá escoar boa parte da produção do Centro-Oeste, hoje exportada pelos portos do Sul e Sudeste do País. Em média, a distância de transporte será reduzida pela metade, calculam os agricultores do Mato Grosso, principais interessados na melhoria da Cuiabá-Santarém. Na avaliação do produtor Egídio Raul Vuaden, integrante de um consórcio que começa a ser formado para disputar a concessão da estrada, a BR-163 é de extrema necessidade para a economia do País. "Hoje, a infra-estrutura de transporte do Sul está sem condições para suprir o aumento das exportações. Por isso, temos de inverter o fluxo. Com a Cuiabá-Santarém deixaremos de percorrer 2.500 km para fazer 1.300 km."

Para o diretor do complexo soja da Cargill, José Luiz Glaser, se não houver uma saída pelo Norte, a infra-estrutura de transporte do Sul vai parar. A empresa inaugurou há dois anos um terminal no Porto de Santarém e deve embarcar este ano um milhão de toneladas.

Mas, por causa das péssimas condições da BR-163, o produto é transportado de caminhão até Porto Velho, em Rondônia, e depois segue de barcaça até Santarém. Com a pavimentação da rodovia, toda a produção de grãos de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, para cima sairia por Santarém. Hoje, a produção de Sinop (MT), por exemplo, é exportada por Santos, diz ele.

Segundo o professor do Centro de Logística (Cel), da Coppead, Paulo Fleury, além do transporte rodoviário, a BR-163 vai reduzir o custo do frete marítimo. "Em vez de descer de caminhão até Santos ou Paranaguá e depois subir toda costa brasileira de navio, o produto pode ser levado direto para Santarém e de lá seguir para seu destino."

A vantagem em custo logístico do Porto de Santarém comparado às demais rotas é significativa para quase todos os municípios ao norte de MT, após a pavimentação da BR-163. Os custos de transporte para a exportação de soja da cidade de Sorriso, no Mato Grosso, para Roterdã, na Holanda, por exemplo, cairia US$ 33 por tonelada, comparado ao transporte via Porto de Santos. Mas isso, considerando o prolongamento dos trilhos da Ferronorte até Rondonópolis. O estudo mostra ainda que a pavimentação da Cuiabá-Santarém pode atrair volumes expressivos de carga geral na rota Manaus-São Paulo, hoje transportada pela rodovia Belém-Brasília.

A expectativa é que o processo de privatização da estrada esteja pronto até o início de 2006, afirmou o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Serão concedidos à iniciativa privada 1.570 km de rodovia, entre Nova Mutum, no Mato Grosso, e Santarém, no Pará. A previsão de investimento é de R$ 1 bilhão. O ministério também trabalha num plano de desenvolvimento regional, seguindo leis ambientais. Há grande temor de que a pavimentação da estrada desencadeie desmatamento ainda maior na região - que vive da extração de madeira.