Título: Presidente Geisel abriu pista 'de primeira classe'em 1976
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2005, Economia, p. B4

A famosa Cuiabá-Santarém, com 1.764 km, foi inaugurada em 20 de outubro de 1976 pelo presidente Ernesto Geisel. Mesmo revestida apenas de cascalho, foi chamada na época de estrada de 1.ª classe, com condições para posterior asfaltamento. Como hoje, uma de suas principais finalidades era abrir as portas para a exportação de produtos do Centro-Oeste pelos portos do Rio Amazonas, como o de Santarém. A construção da estrada trazia também a promessa de desenvolvimento e progresso. Milhares de brasileiros acreditaram no sucesso do empreendimento e foram para a região incentivados pelo governo, que, além da terra, assegurava apoio financeiro. A maioria deles partiu em busca de um sonho e até hoje luta para que a promessa se torne realidade.

A construção da rodovia durou 2.239 dias, custou Cr$ 700 milhões e mobilizou a mão de obra de 989 militares e 1.869 civis, muitos dos quais morreram devido à insalubridade e às duras condições de trabalho. A abertura da estrada começou em 3 de setembro de 1970 e os planos da obra indicavam o ano de 1973 para a inauguração, que só ocorreu 3 anos depois. A construção foi comandada pelos 8.º e 9.º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC) do Exército.

Segundo documentos da época, os dois grupos começaram o trabalho ao mesmo tempo. Mas as condições de terreno e os métodos de trabalho produziram resultados diferentes. Quando começou o ano de 1972, ainda havia esperança de concluir a estrada em 1973. Novos equipamentos, levados do Sul em aviões da FAB, chegaram para substituir os antigos. Mas, se no lado do Mato Grosso a terraplenagem podia ser atacada de imediato, na base de Cachimbo, no Pará, as coisas se passaram de forma diferente. O desmatamento nessa área não era tarefa fácil. Além disso, os trabalhadores tinham de conviver com temperaturas acima de 30 graus e umidade do ar de 90%.

Levar mantimentos até o local também era um desafio. Na época de chuva, a única forma de levar comida para os trabalhadores era uma carreta puxada por um trator. Quando não atolava nas baixadas, o caminhão seguia com dificuldade pela picada recém-aberta. Muitas vezes os passageiros tinham de descer, descarregá-lo, empurrá-lo, cortar árvores com machados e gastar seis horas de viagem para percorrer 30 km - situação não muito diferente da que vivem os caminhoneiros que hoje percorrem a BR-163. E, à medida em que a frente de topografia ia avançando, a entrega do suprimento tornava-se um sacrifício maior.

O método de construção da rodovia foi semelhante ao usado na Transamazônica. Começou pelos estudos de topografia, depois o desmatamento numa faixa de 70 metros de largura, até chegar ao traçado do leito da estrada, com largura entre sete e dez metros de largura.