Título: Perdas na safra chegam a R$ 10 bi
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2005, Economia, p. B7

Pelo menos R$ 10 bilhões deixaram de ser incorporados na agricultura brasileira na safra 2004/2005, por causa da quebra de 20 milhões de toneladas na colheita de grãos. As causas da quebra da safra são a forte estiagem no Centro-Sul do Brasil e a baixa tecnologia aplicada à lavoura em algumas áreas. A estimativa de perda é do próprio ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que prevê uma safra atual menor do que a de 2003/2004, quando foram colhidas 119,25 milhões de toneladas de grãos. Até agora, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimava a safra 2004/2005 em 119,5 milhões de toneladas. Na opinião de Rodrigues, esse número será reduzido na próxima previsão, a ser divulgada na próxima semana. "Eu acho que a previsão trará uma nova redução e é praticamente certo que a safra será menor até do que a do ano passado", disse Rodrigues, que participou ontem de uma reunião com pesquisadores e citricultores em Araraquara (SP).

Na primeira estimativa de safra, feita em outubro do ano passado, o governo previa uma produção próxima a 130 milhões de toneladas de grãos. Se a previsão de Rodrigues se concretizar, a safra deve ficar próxima a 110 milhões de toneladas. "É uma crise imensa para a agricultura. Temos de olhar isso com cuidado", disse o ministro.

Rodrigues comentou ainda, pela primeira vez, a suspensão da exportação de carne bovina para os Estados Unidos. Ele admitiu que com a decisão, tomada durante a semana, o governo quis se adiantar a um possível embargo norte-americano à carne brasileira. "Nós achamos melhor tomar a decisão de suspender a emissão de certificados durante um período, para que possamos implementar toda as solicitações deles, sem que haja embargo", disse Rodrigues.

O Ministério da Agricultura e os frigoríficos exportadores trabalham agora, segundo Rodrigues, seguindo o plano emergencial feito em conjunto com os americanos, para que as exportações voltem gradualmente. "Não houve negligência (dos frigoríficos). O setor cresceu muito e houve falhas tanto do lado privado como por parte do governo", explicou Rodrigues.

Falando para pesquisadores, o ministro revelou ainda que pretende implementar na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) um modelo de fomento de pesquisas por meio da iniciativa privada. Ele vai visitar a Nova Zelândia, ainda este mês, para conhecer a experiência local. "Lá, o financiamento à pesquisa é fortemente apoiado pela área privada. É esse modelo que eu quero trazer para o Brasil e conversar com a agroindústria, cooperativas", afirmou o ministro. "Acho que temos um bom caminho pela frente nessa direção, já que a Nova Zelândia foi privatizando de maneira consistente o financiamento da pesquisa e o governo mantém estrutura e recursos humanos treinados, preparados."