Título: Estacionar o carro: R$ 447 por mês
Autor: Juliana Bianchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2005, Economia, p. C1

Camilla Massetto gasta com o carro todo mês R$ 447 de seu salário como assistente de Marketing. Não se trata de despesa de manutenção, nem combustível, nem imposto, multa ou seguro. Essa é a soma de quanto paga apenas para parar o carro. Estacionar em uma das 830 mil vagas pagas de São Paulo - 30 mil de zona azul e 800 mil em garagens - pode pesar mais no orçamento do que a soma das demais despesas com o carro. Para guardar o carro em um estacionamento descoberto perto da empresa, no Morumbi, Camilla gasta R$ 200. Nas três baladas noturnas semanais, são R$ 45 de manobrista. Nas idas ao shopping, a cada 15 dias, desembolsa R$ 6. No almoço semanal em restaurante, R$ 10. Uma ida a show ou cinema no mês e lá se vão R$ 10.

"Deixo sempre com manobrista ou em estacionamento porque tenho medo de roubarem o carro." Ela tem razão em cuidar do patrimônio. A cada dia, 110 carros foram roubados em São Paulo no primeiro trimestre do ano, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.

O publicitário Alexandre Baroni, que tem estacionamento em casa e no trabalho, gasta R$ 200 por mês com lazer. "Tenho medo que estraguem ou roubem o carro. Além disso, não tenho paciência para ficar procurando uma vaga decente, prefiro deixar em estacionamentos ou com manobristas."

Seja pela falta de segurança, seja pelo excesso de veículos, o custo de estacionar na cidade aumenta em ritmo bem mais acelerado que a frota. O número de carros registrados em São Paulo cresceu 11,2% nos últimos cinco anos - hoje são 5,6 milhões. Mas, em apenas dois anos, um mensalista passou a desembolsar 11,3% a mais para guardar o carro na região da Vila Olímpia, diz pesquisa do Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark).

"A oferta e a demanda determinam os custos", afirma Sérgio Murad, presidente do Sindepark. "Como existem muito mais carros do que espaço na cidade, é natural que se pague caro por isso", arremata o presidente da CET, Roberto Scaringella.

As duas paradas mais caras da cidade hoje são a área vip do Shopping Iguatemi e o hotel Hilton Morumbi, que cobram R$ 18 por um período de 3 horas - no hotel, o valor é reduzido se o motorista estiver hospedado ou for ao restaurante. "Oferecemos estacionamento com toda a comodidade que nosso cliente espera ter, e tudo tem um custo", diz Roberta Pellegrino, gerente de recepção do Hilton.

Na área vip do Shopping Pátio Higienópolis, o mesmo período custa R$ 17. No restante da cidade, paga-se entre R$ 9 e R$ 15. Alguns endereços requintados, como o Empório Santa Maria, o restaurante A Figueira Rubaiyat, a loja Armani, ou o salão MG Hair, o manobrista é cortesia da casa. Ou melhor, está embutido no preço do produto ou serviço.

Mas nada chega perto do que terá de pagar um cliente da nova loja Daslu, a ser inaugurada em algumas semanas. Só a primeira hora custará R$ 30 aos abonados fregueses.

"Quanto mais cara a região e o carro que o local espera receber, mais alto será o valor da apólice de seguro e o preço final do serviço", explica o diretor jurídico da Associação das Empresas de Valet do Estado de São Paulo (Avesp), Syrius Lotti Jr. A grande questão dos valets é se cumprem a lei e param num estacionamento e não na rua.

Para o consultor de trânsito Luiz Célio Bottura, a lei que regulamenta o serviço de valets deveria ser ampliada para qualquer centro gerador de trânsito. "O estacionamento cobrado é essencial numa cidade como São Paulo", diz. "Se houvesse estacionamentos privados suficientes, ninguém ia parar na rua, o que livraria pelo menos uma faixa a mais para o trânsito fluir."