Título: Gilberto Gil critica 'nação tão rica e omissa' com as políticas culturais
Autor: Beatriz Coelho Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2005, Nacional, p. A8

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, criticou ontem a omissão do governo em sua área. "Como é possível que uma nação tão rica e plural em manifestações e valores culturais tenha um Estado tão omisso em sua visão da cultura e das políticas culturais?", indagou ele na abertura de um seminário na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Disse ainda que isso dificulta sua atuação. "Não poderemos, a despeito do empenho e da vontade política de minha equipe, realizar plenamente as metas e programas de governo, e as novas metas que a experiência de 30 meses agrega ao nosso repertório, sem que todo o governo abrace as políticas públicas de cultura."

Após o discurso, Gil recusou-se a identificar que setores do governo são omissos. "Falei genericamente, de uma incompreensão que não é só brasileira, é do mundo inteiro. Dos economistas e de uma visão tradicional do desenvolvimento que ainda não considera a cultura como um aspecto estratégico", disse ele, reconhecendo que esta mentalidade muda lentamente.

"Discute-se um pouco mais a cultura no País. Os setores econômicos começam a sofrer mais pressão do que antes e terão que respondê-la. O ministro Palocci (da Fazenda) me procurou no sábado para falar dessas questões. Portanto, essa preocupação começa a fazer parte dos ministérios até então insensíveis à questão."

Ele negou também que isso o leve a pensar em deixar a pasta. "Uma das funções do ministério é convencer o governo da dimensão estratégica da cultura. Não com discursos, mas com dados estatísticos. Se você fala a linguagem deles, eles te entendem mais", comentou. E reconheceu que essa posição do governo reflete pensamento da sociedade.

"Se você perguntar à população brasileira se os programas de saúde e educação são mais importantes que os culturais, provavelmente a resposta em uníssono será que são." Mais cedo, antes da palestra, Gil dissera que esperava conversar, ainda ontem, com o ministro Palocci, que estava também no Rio. Mas negou ter prazo para a liberação de verbas emergenciais. "Se elas não saírem esta semana, volto a conversar com o presidente. Qualquer atitude que eu tomar será após conversar com ele."