Título: Salvaguardas enterram Mercosul, diz Furlan
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Nacional, p. A5

Brasil e Argentina deveriam parar de ficar apenas apagando incêndios e trabalhar mais em conjunto. A avaliação foi feita ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Luiz Fernando Furlan. Ele defendeu a aproximação entre os dois países, mas alertou que a adoção de salvaguardas unilaterais, que já foram defendidas pelo lado argentino, pode representar o "enterro" do Mercosul. O cenário foi traçado um dia depois de representantes da União Industrial Argentina (UIA) terem cobrado uma definição do Brasil com relação à parceria. "Nós gastamos a maior parte do nosso tempo apagando incêndios, quando na verdade a nossa energia deveria estar motivada para projetos de interesses recíprocos, que possam gerar permanentemente vantagens competitivas", afirmou em entrevista, logo depois de participar do 17.º Fórum Nacional.

O ministro antecipou que pretende ir, no mês que vem, a Buenos Aires, buscar "convergências" com o setor empresarial argentino. Ele admitiu que investimentos conjuntos poderão sair destas conversações.

Anteontem, representantes da UIA afirmaram que o governo brasileiro não deu prioridade ao Mercosul e deveria avançar no acordo ou deixar os parceiros livres para definirem suas estratégias, além de defenderem salvaguardas automáticas.

Segundo o ministro, a posição brasileira sobre o assunto já ficou clara. "Não consideramos o sistema de salvaguardas unilaterais porque elas podem gerar uma quantidade extraordinária de medidas de proteção em todos os países, não só na Argentina, no Brasil, Uruguai e Paraguai, porque pressões há por todo o lugar, e isso seria praticamente o enterro do Mercosul", disse ele. Apesar do alerta sobre as salvaguardas, Furlan adotou um tom conciliador.

"Não vamos por esse caminho (o das barreiras), mas estamos dispostos, como orientou o presidente Lula, a encontrar caminhos de fazer parcerias, promover investimentos", prosseguiu Furlan. Ele disse que o Brasil fez progressos na atração de investimentos e expansão do comércio exterior nos últimos anos e citou que a experiência de órgãos brasileiros "pode ser transplantada na Argentina com a máxima boa vontade".

O ministro qualificou como "construtivo" o encontro com industriais argentinos, anteontem, e disse que foram feitas propostas para uma "agenda empresarial positiva". Ficou combinada a apresentação, em conjunto, de políticas prioritárias de cada país e a análise dos setores que são mais e menos competitivos de cada mercado. O objetivo disso é desenvolver a produção regional.