Título: Comitivas tentam audiência com Alencar, sem sucesso
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Nacional, p. A5

O desgosto do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, com os assuntos da pasta que assumiu há seis meses, chegou ontem à sua agenda de compromissos. Pelo menos três das comitivas dos países árabes que estão participando da Cúpula, em Brasília, gostariam de marcar encontros de trabalho com Alencar. Até as 17 horas não tinham tido sucesso. De acordo com um empresário que presta assessoria aos grupos de autoridades e empresários dessas nações durante a reunião, tratam-se de "compradores potenciais de equipamentos e serviços militares brasileiros".

Não é o primeiro caso. Diretores de dois conglomerados aeroespaciais candidatos ao fornecimento de supersônicos à FAB, cruzaram o Atlântico para esperar por duas horas, desacomodados na mesma sala, um encontro que acabou sendo adiado.

Alencar não tem prazer em tratar do assunto e pouco sabe a respeito da pauta técnica do ministério. Esquiva-se de entrevistas - só fala com repórteres nos rápidos e tumultuados encontros que define como "a conversinha de porta do elevador". O vice-presidente vai pouco a seu gabinete e quando faz isso dedica grande parte do tempo a compromissos políticos: atende parlamentares e reúne a bancada do PL. É lá também que despacha com o presidente do PL, Waldemar da Costa Neto, e atende aliados com influência na política regional de Minas Gerais. A esses amigos mineiros, José Alencar tem dito que gostaria de disputar o governo do Estado "se Aecinho (o governador Aécio Neves) não for candidato a um segundo mandato". Nesse caso o objetivo é outro: a Presidência da República, como admitiu há uma semana.

A inapetência para cuidar da Defesa está reabilitando a autonomia de ministérios que os Comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica já tiveram. Estimulados a isso, cuidam de seus próprios processos e interesses em todas as instâncias. O mais influente nessa articulação é o general Francisco Albuquerque, da força terrestre. Negociador habilidoso, o brigadeiro Luis Carlos Bueno tem obtido alguns benefícios para a aviação. Pior para o sisudo almirante Roberto Guimarães Carvalho, dono de impecáveis projetos para a armada - ainda sem provisão de recursos. O estilo pessoal amistoso e o convite, em público, para "um cafezinho com biscoito" raramente têm resultado prático. Dois personagens da administração, o chefe de gabinete da Vice-Presidência, Adriano Silva, e o general assessor especial, José Luis Halley, cuidam da filtragem de quem é recebido no Ministério da Defesa. "A malha é fina demais", protestam antigos colaboradores. Até o poderoso general Albuquerque tomou chá de cadeira por 90 minutos.