Título: Setor têxtil argentino acusa Brasil de ter política comercial 'depredadora'
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Nacional, p. A5

Apesar do tom de apaziguamento emitido ontem pela União Industrial Argentina (UIA), que costuma ser o reduto dos pedidos protecionistas anti-Brasil, alguns setores empresariais argentinos preferiram utilizar tons mais duros. É o caso da Fundação Pró-Tejer, que junto com o Sindicato dos Operários da Indústria Têxtil, chamou de "irracional" a posição do chanceler brasileiro, Celso Amorim, de não aceitar a implementação do sistema de salvaguardas comerciais. Segundo as duas organizações, o Brasil "pratica uma política comercial depredadora que restringe os investimentos e a capacidade de gerar trabalho na Argentina". O setor têxtil afirma que, no caso específico do subsetor de toalhas de banho, as empresas brasileiras já controlam 60% do mercado argentino.

Os produtores de arroz também reclamaram. Reunidos na Câmara da Indústria de Arroz do Litoral Argentino, anunciaram que os produtores brasileiros estão fazendo lobby para complicar a entrada do arroz deste país.

DISCURSO NOVO

A União Industrial Argentina, que no fim de semana desembarcara em Brasília com uma posição dura em relação ao governo e aos empresários brasileiros, acalmou seu tom, deixando de lado - temporariamente - o rufar dos tambores de guerra. Ontem, em declarações divulgadas em Buenos Aires, Héctor Méndez, o presidente da UIA, afirmou que encontrou "vontade para resolver os problemas" do lado do governo do presidente Lula.

Os problemas referidos por Méndez eram as supostas assimetrias comerciais entre os dois países. Os empresários argentinos alegam que o Brasil concede subsídios às indústrias brasileiras, fato que alteraria o equilíbrio da competitividade no Mercosul. Além disso, argumentam que é preciso levar em conta a existência de um desequilíbrio, já que as empresas argentinas ainda estão se recuperando dos cinco anos de recessão (1998-2003) e da crise financeira e social (2001-2002).

Usando tom mais amável do que o costumeiro para referir-se ao governo Lula, Méndez sustentou que o chanceler Celso Amorim e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, nas reuniões com os industriais argentinos, mostraram "uma vocação de sustentar o Mercosul e nos ofereceram ir juntos na procura de novos mercados".

No entanto, Méndez destacou que se as assimetrias entre os dois países não forem resolvidas e não for fechado um acordo que seja conveniente ao Brasil e à Argentina, o Mercosul "não avançará".

Com mais sutileza que nos dias anteriores, ele declarou que o Brasil deveria ser um pouquinho mais justo com a Argentina, especialmente em "relação a subsídio às exportações e créditos especiais que provocam assimetrias". Em vez de alertar para o fim do Mercosul, Méndez afirmou que percebeu nos dois países a demonstração da vocação de continuar com o bloco do Cone Sul. Segundo ele, os brasileiros estão decididos a manter o Mercosul.

Comentando as duas reuniões, o líder da UIA afirmou que o encontro com Furlan foi mais duro. Segundo Méndez, o governo brasileiro ofereceu sentar à mesa nas próximas semanas para discutir os conflitos comerciais.