Título: Loyola defende política de juros
Autor: Josué Leonel e Luciana Xavier
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2005, Economia, p. B3

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola descartou ontem a possibilidade de o governo adotar medidas alternativas de combate à inflação, como foi sinalizado tanto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Não tem muito o que fazer neste momento. A política monetária continua predominando dentre as armas de combate à inflação. A política fiscal poderia ser um pouco mais restritiva, mas existem dificuldades estruturais para reduzir o déficit público", disse Loyola, sócio-diretor da Tendências Consultoria. O ex-presidente do BC defendeu a política monetária atual e disse acreditar que a trajetória da inflação se reverta "ao longo do tempo". "A política de juros tem eficácia." Para ele, o governo até poderia utilizar outros instrumentos coadjuvantes, "mas essa alternativa não está disponível ao governo".

Na avaliação de Loyola, no entanto, o Banco Central poderia se beneficiar de uma meta de inflação com prazos mais longos no lugar de seguir estritamente o ano-calendário. Ele disse que isso já ocorre, mas é importante que o BC deixe isso claro. "O Banco Central, na prática, tem feito isso, mas gerando um desconforto com descumprimento da meta. Se o BC explicitar, evita o desconforto de ficar explicando toda vez que a inflação acaba ficando acima do centro da meta", avaliou.

Segundo Loyola, da maneira como está hoje o BC acaba sendo alvo de críticas. "Fica entre dois fogos: de um lado é acusado de buscar convergência muito rápida e de outro fica ameaçado de ter sua credibilidade arranhada em termos de política antiinflacionária", disse, Para ele, é mais do que certo que o BC não conseguirá atingir a meta de inflação de 5,1% para este ano. "O BC hesita, e com razão, em admitir esse problema, pois isso poderia elevar o aumento da expectativa de inflação para o ano que vem."

CÂMBIO

Para Loyola, o Banco Central e o Tesouro Nacional poderiam intervir no câmbio para evitar a volatilidade excessiva no mercado. "O Banco Central e o Tesouro poderiam exercer um papel moderador dessa queda. Não para reverter o processo, mas para reduzir a volatilidade."

Segundo ele, a compra de moeda estrangeira pelo Tesouro ou pelo BC seria uma boa alternativa, pois "o Brasil aumentaria colchão de liquidez em moeda estrangeira na véspera de um ano eleitoral". Na opinião de Loyola, as compras poderiam ser feitas no mercado à vista, mas também poderiam ser swaps reversos.

"Por outro lado, o Banco Central poderia examinar a hipótese de usar outros instrumentos de derivativos, como opções. Acho que isso também seria interessante. Buscar alguma criatividade e quem sabe estabelecer um instrumento de intervenção que seja eficaz e mais barato", avaliou.

Sobre o fato de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ter adquirido status de ministro, Loyola apoiou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). "Em nenhum país do mundo o presidente do Banco Central está sujeito a tantas pressões como aqui. Não significa evidentemente blindar o presidente do Banco Central de ações judiciais, mas apenas uma questão de evitar exageros que foram observados no passado", disse Loyola, para quem o projeto de autonomia do Banco Central não deve ser prejudicado com o novo status do presidente do BC.