Título: BCs põem emergentes em alerta
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2005, Economia, p. B4

Os maiores bancos centrais do mundo concluíram a reunião bimestral ontem, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia, com um alerta: o cenário econômico internacional recomenda cautela para os próximos meses, principalmente dos países emergentes como o Brasil, ante uma maior aversão ao risco pelos mercados. Na avaliação do presidente do BC europeu, Jean Claude Trichet, há um aumento dos spreads, ainda que a expectativa seja de crescimento da economia mundial de 4% em 2005. Para o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, a situação do spread, aliada a uma eventual manutenção da aversão ao risco e o aumento do preço do petróleo, representam, de fato, riscos ao País. Mas ele garante que o governo já vem adotando "políticas prudentes" para preparar o País para esse cenário. "É recomendável aos emergentes que mantenham uma atitude de maior cautela. O Brasil já se antecipou a esse novo cenário e pode encarar esse aumento de aversão ao risco com mais tranqüilidade e com segurança. Já fez a lição de casa", disse. A recomendação do BIS é o argumento que Meirelles precisava para resistir às pressões para o afrouxamento da política monetária.

Entre as medidas adotadas como preparação para um cenário de maior aversão ao risco, explicou Meirelles, estão o aumento das reservas, a melhora de índices de solvência e uma política monetária "prudente". Para Meirelles, apesar das mudanças de cenário, as metas de crescimento no Brasil serão mantidas em 4% para 2005. "Nós mantemos nossas previsões de crescimento pois já levávamos em conta esse cenário."

Os spreads, que são as taxas de juros que os países emergentes pagam para conseguir empréstimos ou se financiarem, estavam muito baixos para padrões históricos e se esperava que em algum momento houvesse um ajuste para "padrões mais usuais", explicou o presidente do BC.

Para Trichet, os mercados reavaliaram os riscos. Lembrou que muitas instituições, inclusive o Fundo Monetário Internacional (FMI), apontaram há poucos meses que os riscos estavam "subcotados". "Nas últimas semanas, observamos essa nova alta, uniforme em vários setores e que é um fenômeno que exige cuidados e monitoramento", disse o europeu.

FUNDAMENTOS

Trichet, porém, acredita que esse movimento dos spreads está sendo guiada por "fundamentos, dados e fatos" dos países e empresas. "Felizmente, esse fenômeno não está ocorrendo por contágio." Isso significaria que a aversão ao risco seria baseada em dados reais das economias, e não apenas em percepções. Por isso, afirma, o fenômeno não atingiria apenas os mercados emergentes, mas também corporações.

Na avaliação de Meirelles, os fundamentos da economia brasileira causaram até um "refluxo" da aversão dos mercados no caso do País. "O risco Brasil já aumentou em relação ao que estava antes, mas já houve refluxo diante dos bons fundamentos", observou. Os mercados, afirma, "reconhecem a posição mais sólida e menos vulnerável do Brasil". "Os agentes analisam os riscos de acordo com os fundamentos e por isso é tão importante que o Brasil tenha feito bem seu dever de casa."

Ele não acredita que haverá mudanças na política brasileira de acúmulo de reservas, pelo menos por enquanto. Quanto às emissões no mercado internacional, prefere não antecipar movimentos, mas lembrou que no primeiro semestre de 2004, quando os spreads subiram, o Brasil continuou no mercado.

De uma forma geral, apesar do alerta, Trichet, que serve de porta-voz do G-10 (grupo dos 10 maiores bancos centrais do mundo), aponta uma situação mais estável nos mercados emergentes, o que ajuda a manter o crescimento global da economia. Mas, alerta, isso não quer dizer que a vigilância para conter a inflação não deva ser reforçada.

Entre os riscos para a economia global, o G-10 aponta a pressão da alta dos preços do petróleo e o aumento de preço de outras commodities. Meirelles concorda: "Existe uma expectativa de que o preço do petróleo se mantenha em patamares mais elevados, assim como de outras commodities diante da continuação de crescimento ainda forte de algumas economias asiáticas."

No caso do Brasil, País se beneficia do aumento dos preços de alguns insumos exportados, mas sofre com a variação em itens como petróleo. "De um modo geral no mundo, o aumento de preço de insumos pressiona o crescimento da economia."