Título: Dirceu defende contratações e nega inchaço da máquina
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Nacional, p. A10

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, criticou ontem o governo federal por supostamente se deixar inibir por críticas da oposição e da imprensa às contratações de funcionários públicos, que são, segundo ele, necessárias e aumentam a eficiência da máquina pública. No 17.º Fórum Nacional, na sede do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dirceu classificou as críticas de "disputa política e disputa eleitoral", chamou de "má-fé" alguns ataques ao governo por causa das contratações e prometeu continuar a contratar. "A pressão que vem da oposição e de certa mídia às vezes inibe o governo", observou, diante de platéia formada por empresários e executivos. "É errado. Vocês conhecem qual é a minha linha. Teria continuado contratando, porque é preciso. Não tem contratação política, nem se incha a máquina pública. Está se melhorando a eficiência dela. É contratar professor para universidades, policiais federais... O problema é que não tem alternativa. Aí colocam nas contratações os 50 mil recrutas que pusemos no (programa) Soldado-Cidadão (de ajuda social a quem presta serviço militar)... Aí já é má-fé. Então, vamos continuar fazendo essas mudanças."

Segundo o ministro, vários órgãos, como Ibama, Incra, Polícia Federal, Receita, AGU, CGU e o Dnit tinham de ser reestruturados, assim como os ministérios, por isso houve contratações. "A ministra Dilma (Roussef, das Minas e Energia, que participava do encontro) sabe como encontrou o ministério, não existia mais o Ministério das Minas e Energia", argumentou. "O Ministério da Agricultura, que tem nome pomposo, Pecuária e Abastecimento do Brasil, tinha estrutura de 1937! E nós o reestruturamos. Não fizemos mais e estamos pagando, na parte do controle fitossanitário, onde tínhamos de contratar 250 técnicos."

Dirceu ironizou ainda outros ataques da oposição. "Criticam também que o governo tem muita câmara, muito conselho, muito grupo de trabalho. Dizem que eu tenho 200 grupos de trabalho, que lá tudo morre na Casa Civil... O pior é que eu tenho que ouvir e, na maioria dos casos, eu tenho que ficar quieto, porque o presidente, ó, me puxa a orelha, fala para mim (sic!) ficar quieto", brincou.

COORDENAÇÃO

Bem-humorado, o ministro contou que não gostaria de voltar à Coordenação Política, embora ressalvasse que o assunto é decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estou na Casa Civil, fazendo que o presidente determinou e o que gosto de fazer", explicou. "Não gostaria (de voltar à coordenação). Já fiz isso, quando o presidente determinou, durante um ano e um mês. E não quero voltar." Ele disse que a possibilidade de a articulação política voltar para o PT é assunto a ser perguntado "ao Zé Genoino" (o presidente do partido, José Genoino), mas negou que haja reivindicação do partido nesse sentido. "Não existe reivindicação. Não é o PT que decide isso. É o presidente da República."

Dirceu afirmou ser favorável a continuar na Casa Civil. "Estou vendo que o assunto é indigesto", brincou, encerrando a parte da entrevista sobre a coordenação.