Título: Gil troca carro oficial por táxi para driblar servidores irados
Autor: Rodrigo Morais
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Nacional, p. A10

Além da falta de verbas, motivo pelo qual ameaça deixar o cargo, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, enfrentou um outro problema ontem à tarde: cerca de 200 funcionários em greve cercaram o carro do ministro quando ele deixava o Palácio Gustavo Capanema, sede do MinC no centro do Rio. Enquanto seguranças retiravam uma mulher que se deitara no chão para obstruir o caminho, Gil saltou do carro. Os manifestantes o aplaudiram, pensando que o ministro falaria com eles, mas Gil entrou em um táxi e, atrasado para um compromisso, disse que voltaria mais tarde.

De fato, horas depois, voltou. Cara a cara com os grevistas, Gil argumentou que eles deveriam protestar diante do Ministério do Planejamento, que tem o poder para decidir sobre o reajuste salarial e o plano de carreira reivindicados pela categoria. O clima ficou tenso, o tom das vozes se elevou e, sob gritos de protesto,o ministro desistiu de conversar e foi para seu gabinete.

A diretora da Associação dos Servidores da Funarte, Cássia Mello, disse que a categoria não tem aumento salarial há dez anos e entrou em greve em 4 de abril, depois que o governo federal deixou de cumprir um acordo. Ela classificou como indecorosa a proposta do Planejamento, de reajustes de 70%, 60% e 55% sobre o vencimento básico para servidores de nível superior, secundário e auxiliares, respectivamente.

O teto do vencimento básico para funcionários do MinC ou de órgãos vinculados ao ministério que têm títulos de mestre ou doutor é de R$ 565,00, segundo Cássia. A exceção são os funcionários da Casa de Ruy Barbosa, caso em que o valor sobe para R$ 2.400,00. "Nossa proposta é uma tabela emergencial que iguale os vencimentos básicos dos trabalhadores da Cultura com os da Casa de Ruy Barbosa", explicou a diretora. "Nada justifica essa diferença". Cássia disse que o "privilégio" dos funcionários da Casa foi obtido em 1997 por questões políticas.