Título: Varig tem novo presidente, o sétimo nos últimos cinco anos
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2005, Economia, p. B15

O executivo Henrique Neves foi nomeado ontem presidente da Varig, o 7.º da empresa nos últimos 5 anos. Esta foi a primeira modificação definida pelo novos conselheiros de administração da empresa, que hoje se reúnem com o vice-presidente, José Alencar. A Varig não vai pedir dinheiro, mas quer que o governo avalize as negociações com investidores. Segundo o conselho, há dez propostas de capitalização, nem todas factíveis. "A ajuda no governo é mais no sentido de mostrar, institucionalmente aos investidores, que o governo apóia uma solução. Isso tem um peso inegável. Ninguém vai chegar amanhã (hoje) e dizer ao governo que precisa botar US$ 200 milhões na Varig. Não há a menor hipótese", disse ontem o presidente do conselho de administração, David Zylbersztajn, que divulgou a mudança na diretoria.

Zylbersztajn estima que, em valores atualizados, a Varig tenha cerca de R$ 4 bilhões a receber da União para reposição das defasagens tarifárias de planos econômicos passados. "Isso tem de ser discutido com o governo", disse.

Neves não participou da entrevista coletiva, segundo Zylbersztajn, porque ainda estava se inteirando sobre a situação da empresa. Ele explicou que, além de apresentar o novo presidente da Varig, os conselheiros farão um diagnóstico da companhia para Alencar, falarão das propostas de capitalização em análise e mostrarão que trabalham "no estabelecimento de uma solução rápida e a melhor que possa ser dada à Varig".

Zylbersztajn qualificou o governo como um "parceiro" no processo e indicou que a empresa precisa de tempo para definir uma alternativa. "Tudo depende muito da urgência desse processo", afirmou, citando que a estruturação de uma saída pode durar "uns dois meses". Ele negou que a BR Distribuidora, fornecedora de combustível, esteja pressionando a Varig. Disse que a relação com a BR é "muito boa" e, com a Infraero, oscila entre "boa" e "menos boa".

O executivo reiterou que a Fundação Ruben Berta (FRB), controladora da Varig, admite perder o controle da empresa e deu autonomia integral ao conselho administrativo na busca de uma saída. O novo conselho terá independência de ação, desde a montagem da transferência do controle acionário, até a mudança de executivos da companhia aérea. "O novo conselho é absolutamente profissional", disse Zylbersztajn.

O novo conselho vai trabalhar num mecanismo, que poderia ser um fundo de participações, que permita transferência de controle da empresa no futuro próximo, para "um novo grupo" ou "diversos investidores". Quanto à eventual participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirmou que, se ocorrer, será "lá na frente". A idéia é estruturar primeiro um modelo a partir do qual poderia haver ou não participação do banco.

O novo conselho tomou posse por volta das 10h30. O ex-presidente da Varig, Luiz Martins, deixou a empresa por volta das 11h20, mas não comentou a troca no comando. Segundo Zylbersztajn, ainda poderá ocorrer mais uma mudança na área administrativa, além da nomeação de um novo diretor-financeiro. Os cargos de vice-presidência serão extintos e os diretores se reportarão ao presidente.

Além da reestruturação financeira, Zylbersztajn afirmou que a empresa vai perseguir a redução de custos e aumento das receitas. Não estão previstos, por ora, cortes de pessoal. "Ninguém está falando em demissões. Estamos tratando de questões operacionais essencialmente. Seria leviano falar neste momento se tem muita gente ou pouca gente".

O executivo também procurou demonstrar que a Varig vai bem operacionalmente, exemplificando com a pontualidade da empresa. Argumentou que empresas que faliram no setor tinham problemas operacionais e que este não é o caso da Varig. "Inclusive, a grande concorrente da Varig teve isso no passado, também. Teve problemas sérios, e a Varig, não", disse. Questionado sobre a qual empresa se referia, limitou-se a comentar: "isso é coisa do passado."