Título: Motim: Febem demite 11 diretores
Autor: Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Metrópole, p. C1

A Fundação Estadual do Bem-estar do Menor (Febem) demitiu ontem 11 dos 15 diretores do Complexo do Tatuapé, onde ocorreu uma grande rebelião na noite de anteontem e a madrugada de ontem. Entre os demitidos, está o diretor de divisão do complexo, José Resende Filho, que afirmou existir disputa de poder entre as áreas de segurança e a pedagógica. O secretário estadual de Justiça e também presidente da Febem, Alexandre de Moraes, afirmou que os funcionários não "foram capazes" de pôr em prática o projeto traçado para a Febem. "A alma da unidade é o diretor. Quando ele está de corpo presente, a unidade vai melhor. Infelizmente, não conseguiram impor disciplina e uma rotina", disse Moraes. Segundo ele, os novos diretores "já se enquadraram ao novo plano pedagógico" da instituição e todos são funcionários de carreira da Febem. E assumem hoje.

Ex-diretora da Febem de Ribeirão Preto, a assistente social Bernadete Lasmar assume hoje a Diretoria de Divisão do complexo.

Os ex-diretores, após saberem da demissão, convocaram a imprensa para informar que faltou tempo de consolidar o novo projeto pedagógico da instituição. "Não houve tempo nem para treinamento dos novos funcionários. O governo não resolveu em 12 anos o problema da Febem. Não é agora, em véspera de eleição, que a Febem vai mudar", disse a ex-diretora da Unidade 15 Roseli Albuquerque da Silva.

Como ela, os ex-funcionários temem que o governo volte a adotar a tática da "tranca", deixando internos sem atividades socioeducativas, e recontrate servidores demitidos em fevereiro.

"A Febem continua cemitério do Estatuto da Criança e do Adolescente e, se continuar assim, será cemitério de pessoas", disse Ariel de Castro Alves, coordenador estadual da Comissão Nacional de Direitos Humanos.

O deputado estadual Ítalo Cardoso (PT) convocou Moraes para explicar o que ocorre na instituição. Segundo ele, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia se reúne amanhã para discutir o assunto, mas a presença de Moraes não foi confirmada.

REBELIÃO

Três motivos desencadearam a 26.ª rebelião do ano nas unidades da Febem do Estado. Dessa vez, o motim atingiu quatro unidades - que abrigam cerca de 280 internos - do Tatuapé. Ele terminou no início da madrugada e durou seis horas. Em meio à confusão, 27 adolescentes fugiram pela rede de esgoto, mas foram recapturados. O conflito deixou 11 jovens e três funcionários feridos.

O primeiro motivo da rebelião se deu logo de manhã, anteontem, quando o presidente da Febem anunciou a demissão de oito funcionários do Complexo do Tatuapé. Eles são acusados de esconder durante a revista da Tropa de Choque cinco celulares e objetos pessoais dos internos.

Os policiais fizeram uma revista pente-fino nas 14 unidades do complexo. Encontraram 65 naifas (facas improvisadas), 21 celulares, 20 barras de ferro, 14 carregadores, 7 chaves de fenda, 2 martelos e 1 alicate.

O segundo motivo que agitou os internos foi o boato da recontratação de cerca de 200 ex-coordenadores considerados da "linha- dura". A Febem nega a recontratação. O último seria a entrada do Choquinho (grupo de apoio da Febem) nas unidades do complexo. - o que deu início a uma fuga contida pela Polícia Militar.

A rebelião começou por volta das 19h30 nas unidades 1 e 4, que abrigam menores entre 15 e 17 anos. Logo se espalhou para as unidades 19 e 23. Os internos tomaram três funcionários como reféns. Por volta das 23h30 o Choquinho entrou em ação. Isso teria desencadeado a fuga pelo esgoto.

A Tropa de Choque foi chamada novamente. Daí para a frente, o complexo virou uma praça de guerra. Foram usadas bombas de efeito moral e balas de borracha. Houve corre-corre e pancadaria. Internos eram vistos consumindo drogas e falando nos celulares.

Várias ambulâncias deixaram a Febem levando funcionários e adolescentes feridos para prontos-socorros. O motim terminou por volta de 1h30, mas as buscas aos fugitivos continuaram durante toda a madrugada.