Título: Preços agrícolas caem e derrubam IGP-DI
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Economia, p. B3

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu quase pela metade em abril - de 0,99% para 0,51%. O resultado foi beneficiado pela queda dos preços dos produtos agrícolas no atacado, que passaram de alta de 3,59% em março para queda de 1,60% em abril - o menor resultado nesse tipo de indicador em seis meses.

Para o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, foi superada a recente disparada nos preços agrícolas no atacado, causada por problemas climáticos - como a estiagem na Região Sul. "O maior impacto do choque dos agrícolas na inflação do atacado já passou", disse o economista.

Mas o IGP-DI de abril, divulgado ontem e cujo período de coleta de preços foi do 1.º a 30 do mês, não trouxe apenas boas notícias para a inflação.

O núcleo da inflação do varejo nesse índice - dado que exclui as altas mais expressivas e quedas mais significativas de preço -, teve alta de 0,65%, ante aumento de 0,49% em março. Foi o maior nível mensal do núcleo, em 19 meses.

Ao ser questionado se esse aumento poderia ser visto como motivo para maior aperto monetário, por parte do Conselho de Política Monetária (Copom), Quadros foi cauteloso.

"Realmente, essa alta no núcleo, é preciso prestar atenção nela. Não acho que o Copom possa aumentar os juros apenas por essa alta no núcleo", afirmou o economista. " É um fator a mais para o Copom analisar. Mas é suficiente para subir os juros de novo? Acho que não", completou Quadros.

SEM ALTA

Ao comentar o IGP-DI de abril, Quadros informou que, graças ao recuo dos preços agrícolas, o Índice de Preços por Atacado - Disponibilidade Interna (IPA-DI) reduziu quase quatro vezes, de março para abril, passando de alta de 1,14% para aumento de apenas 0,33%.

O economista observou ainda que, embora tenha ocorrido um aumento nos preços dos produtos industriais no atacado (de 0,30% para 1,01%), o aumento é concentrado em aceleração pontual nos preços de combustíveis e lubrificantes (de 0,19% para 2,32%).

"Não há uma nova onda de alta nos produtos industriais no atacado. O que ocorreu foi reflexo, no mercado interno, de flutuações no preço do petróleo no mercado internacional", disse.

No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor - Disponibilidade Interna (IPC-DI) assumiu trajetória diversa da do IGP-DI e do IPA-DI, e atingiu em abril o maior nível em 15 meses, passando de alta de 0,70% em março para aumento de 0,88% no mês passado.

Quadros comentou que a aceleração de preços no grupo Alimentação (de 0,78% para 1,22%) foi a principal responsável pelo aumento. Segundo ele, está ocorrendo um repasse tardio, para a inflação do varejo, da recente alta dos preços dos produtos agrícolas no atacado.

Já o Índice Nacional do Custo da Construção - Disponibilidade Interna (INCC-DI) passou de 0,67% para 0,72% de março para abril. O IGP-DI de abril acumula altas de 2,24% no ano e de 10,22% em 12 meses.